O trauma das autárquicas

- Acredita, amigo, que eu já ando com medo do que, ultimamente, tem sucedido.

Isto de todos os anos que há eleições Autárquicas cair uma árvore no Largo da Fonte, não será castigo de Nossa Senhora do Monte?

- Não acredito que Nossa Senhora da Assunção seja assim tão contundente, até porque na queda da primeira árvore morreram tantas pessoas inocentes…fruto, Deus lá sabe, do desleixo ou incompetência de certa gente!

- É verdade, mas sabes que nos castigos do SENHOR, muitas vezes, paga o justo pelo pecador.

- Sei, mas era uma festa tão bonita, concorrida, com muita tradição, que fechava com uma missa solene e uma enorme e devota procissão.

- Pois, mas não será na procissão que deve estar a razão? Nossa Senhora não dizia nada, mas via-se que desconfiava da fé de alguns senhores que seguiam logo atrás do andor.

- E achas mesmo, meu amigo, que ELA mandou cair as árvores como castigo?

- Não, a primeira foi um triste e lamentável acidente, mas a segunda já foi para alertar a gente.

- Não entendo.

- Já te explico, concretamente:

Estas árvores desde há muito que estão doentes, mas para mandar cortá-las nunca ninguém se chegou à frente e como Nossa Senhora sabe – e, no fundo, sabe todo o “mundo” – que em ano de Eleições Autárquicas é que aparecem os RESPONSÁVEIS, para fazerem o que nos outros anos não fazem, mandou esta árvore para o chão sabendo que corriam a dar solução.

-Compreendo. Se ela caísse para o ano, por exemplo, mandavam para lá uns bombeiros, uns guardas florestais, mais uns trabalhadores com serras, vassouras e pás, limpavam da árvore os seus “restos-mortais” e as outras árvores “doentes” lá ficavam à espera de outro acidente.

- Exatamente.

- Mas isto acontece só com esta Vereação ou esta prática já faz parte da tradição?

- As Vereações, umas melhores, outras piores, diferenciam-se só nos pormenores.

- Mudando um pouco de assunto, mas mantendo o tema de fundo, não achas que esta coisa de ser Presidente de Junta de Freguesia ou de Câmara Municipal deve ser um” tacho” bestial.

- Penso que não. É mais uma generosa opção de determinados cidadãos, que fazem questão de terem uma Câmara ou Junta de Freguesia ao sagrado serviço da população.

- Mas pelo que se tem visto na votação a maioria das pessoas não tem essa opinião.

- Chega-te aqui, amigo, vou dizer-te uma coisa ao ouvido:

Este povo é ingrato e a continuar assim eu já estou vendo o retrato. Qualquer dia só votam os candidatos, seus pais, filhos e cunhados, padrinhos e afilhados e os amigos mais chegados.

- E aquela pequena porção de cidadãos que ainda leva a peito que votar é um DEVER CIVICO e lá vai às urnas cumprir esse sacrifício.

- É verdade. Já não me lembrava dessa pequena parte do eleitorado.

- E já agora que ninguém está a nos escutar, tu e tua mulher já decidiram em quem votar?

Como temos dois filhos pequenitos, vamos votar nos que criarem uma pista para triciclos!

- Certíssimo. Houve um que beneficiou os que têm motas, veio outro que privilegiou os que têm bicicletas, como vocês têm filhos pequenitos, é justo que exijam algo para os triciclos.

Acho muito bem, votar em quem olhe pelos mais pequeninos também!

- Bom, foi um prazer estar contigo, até à próxima, meu amigo.

Juvenal Pereira