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Intolerância Política

Nada permanece tão simples e observável como a vulgaridade da intolerância.

A ansiedade eleitoral que se avizinha desperta o auge desse comportamento. Crescem como cogumelos em dias de chuva e de nevoeiro.

A tolerância não se cultiva pela profissão, pela formação académica ou pelo credo. Cultiva-se fundamentalmente pela comunhão e pela partilha com a diferença, a vários níveis.

O fanatismo ideológico partidário produz um exército de intolerantes. Muitos deles agem por mimetismo, pois na senda da velha sabedoria aristotélica o homem é o animal que mais imita a si próprio.

O discurso absolutista e fanático do tipo “o meu partido é melhor que o do meu próximo” é a mais elementar receita da pobreza humanista. Poderão existir naturalmente membros que se destacam uns dos outros; programas mais aceitáveis e viáveis que outros; discursos mais empolgados que outros, mas, analisado o todo, e na junção dos opostos, há sempre utilidades e viabilidades nos diversos conteúdos.

Todos somos produto de muitos outros, e é pela diversidade e pela pluralidade que se atinge a tolerância e a compreensão.

Os argumentos devem estar no centro do debate político, e conscientes de que no mundo terreno estamos permanentemente a resolver problemas e a corrigir erros é perfeitamente natural que nesses termos haja argumentos para exercer e consolidar a crítica. Ser tolerante em política partidária é também conjugar três princípios enunciados por Karl Popper: o da fiabilidade, o da discussão sensata e o da aproximação à verdade (Popper, Sociedade Aberta, 1995).

Resolver problemas está na essência entre o ser vivo e o mundo. Estamos permanentemente a resolvê-los.

Na conjugação do papel de eleitos pelo povo, sobretudo da esfera autárquica, procurar-se-á dissipar os dilemas que são apresentados pelos cidadãos.

A teorização das ideologias políticas não confere, no meu entender, substrato fértil perante um universo tão plural dos problemas da sociedade numa dada conjuntura. O somatório das problemáticas, com um árduo trabalho de levantamento e sistematização, confere sim uma resposta mais eficaz no desenvolvimento de uma sociedade melhor. As ideologias não deixam de ter a sua relevância, mas tornam os Homens submissos à teorização ideológica dos seus programas.

O seguidismo e o fanatismo ideológico formam correntes manietadas pela intolerância. O convívio com as ideias plurais tornam os homens livres e tolerantes.

Converter intolerantes à tolerância é uma das tarefas mais árduas emocionalmente. O corpo e a alma estão em permanentemente estado de alerta; crispam por tudo e por nada; e apenas a presença física daqueles que não militam na sua corrente ideológica os convergem à irracionalidade

Julgo que o fanatismo se torna numa poderosa patologia mental. As mentes crescem dentro de um cubículo compartimentado ideologicamente. Fora do cubículo tudo permanece estranho, e deve ser combatido.

É isso. Não tão simples, mas quase isso.