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Repovoar, repensar…

Antes da era pandémica em curso, as preocupações ambientais e com as alterações climáticas povoavam o cimo das agendas mediáticas e da política-espetáculo a que nos habituámos a “gramar”. A mal-humorada Greta derramava beicinho nos fóruns mundiais e nos palcos de decisão planetária, a que a elite da governança mundial, também a “tolerou” enquanto um (fabricado) símbolo icónico da vindoura geração.

Depois veio o maldito “corona” e as atenções transferiram-se. Houve menos poluição, a natureza e a fauna ocupou espaços vazios da civilização suspensa, e sem que nós percebêssemos, o vírus estava a obrigar a que a humanidade se comprometesse coercivamente com o Protocolo de Kyoto e a ladainha da descarbonização.

E vêm estas linhas introdutórias a propósito da míngua demográfica a que a Madeira e a generalidade do país estão a experienciar, decorrida a leitura dos Censos deste ano. E aqui, retomo a questão ambiental e a decorrente disponibilidade de recursos.

Primeira reflexão: há poucos dias no final de julho, a ONG norte-americana Gobal Footprint Network afirmou que já esgotámos os recursos planetários do ano, pelo que estamos neste momento a viver a crédito no que se refere aos recursos biológicos mundiais. Este comunicado emanado desde Glasgow que irá acolher em novembro a COP26 (26ª Conferência das Partes da Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas para as Alterações Climáticas), refere que seriam precisas 1,7 Terras para satisfazer o consumo da população mundial. Logo, à partida, neste domínio de esforço ambiental com menos população, estaremos a consumir menos recursos, a não ser que o nosso padrão de consumo/desperdício esteja mais agravado em proporção.

Segunda reflexão: atendendo aos efeitos que este arquétipo demográfico provoca na comunidade, nomeadamente na sustentabilidade da segurança social e à maior esperança de vida da população, há desequilíbrios que se agudizam na atual arquitetura contributiva do Estado e das políticas sociais, objeto de sucessivas calibragens que ditam novos desafios. Ora, precisamente por isso é que desde há já alguns anos, que os poderes de distintos níveis de decisão do Estado, desde as autarquias até aos governos regionais e central têm avançado com políticas de estímulo à natalidade, que pelos vistos, não têm tido grande acolhimento, não sendo suficientemente atrativas.

Ou seja: temos aqui interesses conflituantes num pequeno território, que apesar destes números de menor demografia, ainda apresenta uma das maiores densidades populacionais do país. Por isso, mais do que tecer afirmações no imediatismo, talvez fosse mais aturado pensar além do horizonte geracional, ao invés dos ciclos políticos de orientações efémeras para soluções tão intensamente estruturais, cujos efeitos se prolongam ao longo de várias décadas.

Temos assistido nos últimos anos, à vaga imigratória da diáspora madeirense e à animação do setor residencial de estrangeiros que se sentem atraídos pela ilha e pelos serviços que a mesma proporciona. Só falta mesmo a “atração” para procriar, mas pensem, antes dos preliminares…