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Central sindical da Guiné-Bissau diz que violação dos direitos humanos atingiu "pico insuportável"

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O secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG), Júlio Mendonça, disse hoje que a violação dos direitos humanos no país atingiu um "pico insuportável".

"É evidente que ficou mais uma vez patente que o nível de violação dos direitos humanos atingiu um pico insuportável", disse à Lusa o líder da principal central sindical do país, após um protesto ter sido dispersado com gás lacrimogéneo.

"Infelizmente, o nível de compreensão do Estado de Direito por esta gente é péssimo e só temos a lamentar", afirmou Júlio Mendonça.

O dirigente sindical explicou que a UNTG cumpriu com todas as formalidades para realizar o protesto de hoje e que foram "surpreendidos com o aparato policial".

"O mais grave foi lançarem gás lacrimogéneo contra as pessoas, inclusive para dentro na nossa sede", afirmou, salientando que o povo da Guiné-Bissau "deve acordar".

O líder da central sindical referiu que alguns "três ou quatro" manifestantes ficaram feridos na sequência da intervenção policial.

Júlio Mendonça afirmou também que o protesto foi marcado no quadro das celebrações do dia 03 de agosto, feriado em Bissau para assinalar o massacre de Pindjiguiti, quando a polícia colonial portuguesa reprimiu um protesto de trabalhadores guineenses, provocando a morte a pelo menos 50 pessoas.

"Ficou evidente que o que o povo da Guiné está a viver neste momento é pior do que vivia no período colonial. Estamos a assistir à mesma atuação com os nossos compatriotas que, infelizmente, não percebem como fazer a política. Julgam que ser membro do Governo, é ser omnipotente e fazer o que quiserem, não respeitam a princípio da legalidade, nem moldam a sua atuação com base nesse princípio", afirmou.

O líder sindical prometeu que vai continuar com a luta, porque tem consciência clara da missão que assumiu.

A polícia da Guiné-Bissau dispersou hoje com gás lacrimogéneo algumas dezenas de pessoas que se manifestavam pacificamente em frente à sede da principal central sindical do país para exigirem melhores condições de trabalho.

No local, um forte dispositivo policial começou por cercar os manifestantes, tendo-se depois afastado para em seguida começar a disparar gás lacrimogéneo.

Os manifestantes não entraram em confronto, encontrando-se apenas a gritar palavras de ordem.

Fonte policial no local disse à Lusa que o protesto não estava autorizado.

Na sequência da quantidade de gás lacrimogéneo lançado, uma escola das imediações teve de ser evacuada.

A União Nacional de Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG) marcou para hoje o início de uma série de protestos, que vão decorrer até 03 de agosto, após terem falhado as negociações com o Governo.

O protesto devia ter início junto à sede da UNTG, em Bissau, e terminar na Assembleia Nacional Popular.

A central sindical tem convocado, desde dezembro, ondas de greves gerais na função pública, para exigir do Governo, entre outras reivindicações, a exoneração de funcionários contratados sem concurso público, melhoria de condições laborais e o aumento do salário mínimo dos atuais 50.000 francos cfa (76 euros) para o dobro.

O Governo guineense tem proibido a realização de manifestações por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus.

O decreto que prolonga o estado de alerta e que está em vigor até 24 de julho determina que as "reuniões e manifestações são permitidas, desde que se cumpram as medidas relativas ao distanciamento físico mínimo de um metro entre os participantes, ao uso correto da máscara e à higienização das mãos".

O decreto recomenda que os "eventos levem o mínimo de tempo necessário, com vista a reduzir o período de exposição das pessoas".