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A política minimalista e os minimalistas da política

O caso é grave e sério, não só porque as pessoas ajudadas são-no por falhanço do Governo do PSD

Hoje quero debruçar-me sobre um novo fenómeno da política regional, que é, simultaneamente, a nova bandeira do PSD. E esta bandeira consiste em apelidar a política social, desde que não seja praticada em tons laranja, de política minimalista. O caso é grave e sério, não só porque as pessoas ajudadas são-no por falhanço do Governo do PSD: no social, na saúde, na assistência na doença, etc…; mas também porque o PSD faz a mesmíssima coisa mas à socapa e sem regras, distribuindo dinheiro sem critério aos braços armados habituais: associações, misericórdias, e casas do povo. E fazem-no sobretudo sem garantir a privacidade de quem é ajudado, com longas filas à porta das instituições e sem o recato que tem sido a marca da nossa intervenção social.

Mas, em todas estas variantes, o mais importante é deixar claro que a política social só existe porque há razões para que ela exista. O bom seria toda a gente estar bem e não precisar de ajuda. Isso seria o ideal e nada me deixaria mais feliz enquanto autarca.

Agora quando vejo que as pessoas precisam de ajuda para comer, para pagar os estudos dos filhos, para realizar cirurgias em lista de espera há anos, para terem o mínimo de conforto em casa e na doença, cabe-me, enquanto autarca, responder a essas necessidades que são a verdadeira natureza e objetivo de uma política de proximidade que deve ser assegurada pelo poder local. E se o poder local o faz é porque a montante as políticas governativas conjunturais e de natureza macro estão a falhar.

Mas, aos interesses eleitorais do PSD, importa fazer de conta que nada têm a ver com os falhanços nas políticas do emprego, da saúde e da economia.

Então arranjam esta história da política minimalista porque não lhes interessa realmente os problemas das pessoas. Não lhes interessa a política minimalista, porque na verdade são minimalistas na política. E o minimalismo na política é colocar os interesses partidários acima dos interesses da população, é colocar os interesses particulares acima dos interesses coletivos, é colocar a agenda política na ordem do dia, e é, sobretudo, colocar em prática o ilusionismo da política de um suposto sucesso governativo que não é real, criando falsas realidades, falsas verdades e falsas teorias. As políticas minimalistas são necessárias às pessoas, porque os problemas das pessoas nunca são mínimos para quem os sente; os minimalistas da política são minimalistas porque só servem os seus próprios interesses e os interesses dos seus correligionários. Ou seja, usam o poder e servem-se dele a seu belo prazer. Aqui reside a verdadeira natureza dos diferentes minimalismos.