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Inteligências…

Inteligência é um termo usado comummente quando nos queremos referir à habilidade cognitiva

Há uns dias, uma notícia noticiada aqui no Diário, noticiava que iriam ser instaladas na cidade umas “papeleiras inteligentes”, isso mesmo, umas coisas inteligentes onde se deitam fora papéis que já não têm utilidade.

Aparentemente a ideia não é coisa local, pois noutras localidades foi optada também esta solução: pôr à nossa disposição um depósito dito “inteligente” para onde jogar papéis velhos e/ou inúteis. Não sei que resposta poderemos ter se, em vez de um papel velho e inútil, jogarmos fora um papel em pleno gozo de seu prazo de validade. Será recusado? Haverá uma voz a dizer “recolha o seu papel que ainda está em muito bom estado e com um prazo de validade actual”?

Inteligência é um termo usado comummente quando nos queremos referir à habilidade cognitiva. Esta é uma definição considerada demasiado imprecisa para poder ser útil num tratamento científico sobre a matéria, e então os cientistas recorreram ao famoso Quociente de Inteligência, que não é mais do que um teste sobre exactamente essas habilidades cognitivas, para quantificar a inteligência humana.

Sócrates, o filósofo grego, não o “filósofo português”, disse que quanto mais conhecimento tinha menos sabia, querendo dizer que quanto mais aprendemos mais temos para descobrir, pensamento que ficou resumido na frase – “só sei que nada sei”.

Daniel Goleman, nos anos 90 do Século XX descreveu uma outra forma de inteligência – a Inteligência Emocional, que estuda outros factores como a auto-confiança, o auto-domínio, a integridade, a capacidade de comunicar, influenciar e aceitar a mudança, relativizando a importância do QI no sucesso individual, sendo os mais bem sucedidos os que maximizam a produtividade dos grupos onde se inserem.

Mais recentemente, com o advento da capacidade de gerar, e gerir, conhecimento através dos algoritmos, cresceu um outro conceito de inteligência, baseada no conhecimento humano, mas potenciada pela capacidade dos computadores, que foi definida por A. Kaplan e M. Haenlein como Inteligência Artificial, que é “uma capacidade do sistema para interpretar correctamente dados externos, aprender a partir desses dados e usar essas aprendizagens para atingir objectivos e tarefas específicas através de adaptação flexível”, o que quer que isto signifique!

(a frase de Sócrates - o filósofo grego, não o outro, aplica-se aqui de uma forma não filosófica mas sim literal – só sei que nada sei – quanto maior o conhecimento, mais há para aprender).

Sabemos que a realidade é modificada a cada dia, sem que a maioria de nós se aperceba.

Não resisto a contar a história de quatro amigos, já entradotes, que estavam num bar a tomar uma(s) cerveja(s), quando um deles disse para o outro “olha para aquela mesa ali ao canto, com aqueles quatro velhotes. Será que seremos assim daqui a 10 anos?”, ao que o amigo responde – “aquilo é um espelho, palerma!”.

A realidade espelhada é muitas vezes mais real do que a realidade imaginada. É a diferença entre aquela que a emoção vê e a que a razão sente.

A inteligência, olhada por um qualquer ângulo que a queiramos ver, leva ao conhecimento e este à aprendizagem, sem a qual não há QI, IE ou IA que resista.

E agora há papeleiras inteligentes!

E abro um parenteses

(um “depósito” destes, com esta “inteligência” associada, poderia ser muito útil para aqueles familiares que depositam os seus “velhos/inúteis familiares” nas urgências dos hospitais, “esquecendo-se” de os ir buscar quando lhes é dada a alta, deixando-os ao abandono, com um enorme desrespeito por quem lhes deu eventualmente tudo e a quem não querem retribuir, por puro egoísmo, dizendo-lhes de uma forma inteligente que aquilo que estão a fazer não é possível porque o prazo de validade, nestes casos não se esgota e não pode ser contabilizado como se de um iogurte se tratasse!

Pode ser que ouvissem a máquina “inteligente”)

fecho parenteses.

E agora até já há papeleiras inteligentes a dizer-nos o que fazer com o papel que nos queremos desfazer, deixando-nos cada vez mais socráticos – só sei que nada sei!