Sociedade Suicida

A probabilidade de o leitor não integrar a estatística do que aqui irei profanar é quase inexistente e, como tal, não irei perder tempo a justificar-me, serei breve e saiba que a minha ideia de o querer agradar está completamente ausente.

A arma que hoje temos em casa nunca foi tão boa. Foi-nos oferecida e é munida gratuita e diariamente. Já somos adultos e ainda assim aceitamos coisas estranhas de gente estranha que, pelo menos no tempo em que estamos vivos e temos a memória da experiência, não nos deram nada de bom a longo prazo. A arma é o próprio medo e usamo-la contra nós próprios - somos, logicamente, suicidas. Numa segunda abordagem, somos igualmente homicidas, pois arrastamos outros, portanto, é caso para dizer: Viva à Democracia - um dia alguém ainda me irá explicar onde basearam esta ideia de que o povo tem sabedoria.

É fácil entender que o medo tenha sido fundamental para contarmos hoje setenta milhões de anos de espécie, mas nada justifica usarmos o medo para estrangularmos a nossa liberdade - liberdade essa que já foi custosa de conquistar. Os nossos ancestrais sentiriam vergonha de nós e chamariam-nos podres de medrosos e podres de mimados se a história fosse ao contrário.

O leitor entregou a sua liberdade e os seus direitos às mãos de um curral político e perdeu a tesão e a capacidade de a prezar. Não é homem nem é mulher. Não passa de um impotente incompetente desvirtuado. Sim, você, leitor. Você mesmo. Você prefere ficar em casa, na sua nova prisão, a prisão domiciliária sem pulseira eletrónica, mas com televisão, sendo saudável. Você prefere que os seus filhos usem máscara na escola sem pensar nas consequências futuras de perda de identidade e problemas de sociabilização, e ainda nas repercussões de psicopatia que daqui advirão - para não falar que a sensação de anonimato é perfeita para dar origem a criminosos. Você permite deixar-se enganar por números com ausência de provas só porque os meios de comunicação, nos anos anteriores, nunca se deram ao trabalho de propagandear as mortes agravadas por gripes sazonais. Você aceita ser testado tendo a hipótese de não ser - no limite do que já é praticado restringindo a sua mobilização. Você prefere fechar o seu estabelecimento, que é seu por direito, por medo de pagar uma multa - que na verdade não irá pagar. Os nossos antepassados morriam com machados e você tem medo de uma aparente multa, quem é você? Você recusa-se a pisar o primeiro degrau em direcção à sua liberdade e a crer que ainda vive num Estado de Direito que ainda funciona a seu favor - ainda.

Não pense que se livra da sua responsabilidade, você não é vítima como se julga. Você é culpado e eu não sinto pena de si.

Você estraga a estatística de sucesso de pessoas que lutam por preservar a Soberania da Nação.

É capaz de imaginar por onde o seu medo o fará passar até ao dia sua morte? É uma pergunta que deve fazer a si próprio, logo, obter uma resposta de si próprio - isto significa que terá que fazer iniciação ao uso do seu cérebro - antes que o tirem - mas não se assuste, comece agora, e poderá dizer que o usou pelo menos durante trinta segundos.

Carolina Leça Pereira