Madeira

Exemplos que o vírus não matará

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Boa noite!

Miguel Albuquerque voltou a confessar hoje que, neste ano pandémico e nos momentos críticos, os madeirenses tiveram “um comportamento exemplar".

Embora seja perigoso generalizar, dado que há sempre excepções, por vezes em lugares de destaque, o reconhecimento público fica-lhe bem e é justo, mas não compra a exigência permanente, nem cala a revolta legítima.

Se fomos exemplares é porque percebemos a dimensão da tragédia para a qual, por muita gabarolice que tenha sido exibida e enfatizada, ninguém estava preparado na plenitude.

Se fomos exemplares devemos à percepção que não raras vezes estávamos entregues a nós próprios, e por tal, importava ter cautelas acrescidas e responsabilidades impiedosas, evitando que o natural instinto de sobrevivência deixasse os mais frágeis para trás.

Se fomos exemplares é porque prezamos a vida, preferindo aguentar a dor, adiar a consulta e até ousar mandar esperar a morte anunciada do que reclamar contra quem não tinha mãos a medir ou culpar inocentes.

Se fomos exemplares é porque deixamos trabalhar quem sabe, sobretudo os incansáveis profissionais de saúde, confrontados com limitações inacreditáveis e inconcebíveis, mas mesmo assim sempre disponíveis para garantir a dignidade humana a qualquer momento.

Se fomos exemplares é porque não deixamos de trabalhar, mesmo que muitas vezes de forma sofrida, sem sucesso ou rendimentos, mesmo que obrigados a ficar em casa, a manter a distância e a deixar esmorecer a economia.

Se fomos exemplares é porque temos a noção do ridículo e recusamos a contradição, observando regras e denunciando infracções, aprendendo a lição em vez de honrar a tradição, relativizando aproveitamentos circunstanciais da superação da desgraça que alguns usaram em benefício próprio.

Se fomos exemplares é porque pensamos no futuro e temos esperança, mesmo que desconfiemos da eficácia do plano de vacinação e dos superiores interesses dos grandes laboratórios. Se em 2 meses apenas 3% da população madeirense foi vacinada e se o governo regional estima que em Setembro 70% tenham já levado a pica, a média nos sete meses em falta será estonteante. Esperemos que sem atropelos, nem espertezas saloias. Que cada um aguarde a sua vez e dê o exemplo.