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A Esperança

Aos políticos que, durante a campanha eleitoral, prometeram tudo e mais um par de botas, não lhes basta ter a esperança de conseguir cumprir o prometido

As recentes eleições provocaram, novamente, uma onda de esperança. Esperança nos eleitos de conseguirem cumprir, pelo menos, parte das promessas eleitorais, no pressuposto de que isso lhes proporcione uma nova eleição daqui a quatro anos; esperança nos eleitores (pelo menos em alguns…) de que a mudança lhes traga uma vida melhor.

Diz o povo, na sua ancestral sabedoria, que “a esperança é a última a morrer”. Embora a esperança seja sempre uma experiência pessoal difícil de definir, é um sentimento (uma qualidade afectiva) que fortalece a determinação, mesmo em altura de grande incerteza. Apesar dos imponderáveis e da natureza imprevisível da humana existência, ter esperança ajuda.

Descobertas recentes da Psicologia revelam que as pessoas que normalmente apresentam um nível elevado de esperança, qualquer que seja o seu QI, conseguem melhores desempenhos do que as que não a têm.

Segundo Charles Richard “Rick” Snyder (psicólogo americano especializado em psicologia positiva) et al. (1991) a esperança é um estado cognitivo positivo assente na expectativa de sucesso, determinante, juntamente com o planeamento, para alcançar objectivos. Isto é, a esperança tem relevância no contexto do “fazer”.

Não se trata, porém, de um estado de espírito de características mágico/religiosas em que basta ter muita esperança para que tudo nos corra a contento. Não sejamos ingénuos.

A Teoria da esperança de Snyder baseia-se em três pressupostos:

Pensar nos Objectivos – a clara conceptualização de objectivos válidos;

Pensar nos Caminhos – capacidade de desenvolver estratégias especificas para os alcançar;

Pensar na Atitude – capacidade para iniciar e manter a motivação necessária utilizar essas estratégias.

Assim sendo, aos políticos que, durante a campanha eleitoral, prometeram tudo e mais um par de botas, não lhes basta ter a esperança de conseguir cumprir o prometido. É necessário: inteligência, conhecimento, habilidade, atitude, competências, vontade, fé, paixão, inspiração, transpiração, optimismo, honestidade e, fundamentalmente, muito empenho, trabalho e sentido de serviço público para não frustrar as esperanças criadas nos eleitores.

Isto, acreditando que as promessas feitas são realistas e realizáveis e foram formuladas em consciência e com a vontade firme de as cumprir. Que, aos eleitos, os informa uma vontade séria de serviço público e que possuem um mínimo de competências para a realizar.

A experiência tem demonstrado, ao longo dos anos, que nem sempre é assim.

Se, novamente, não se verificarem os pressupostos referidos acima, verão, os eleitores, frustradas as suas expectativas e desfeitas as suas esperanças.

Vamos ter esperança de que, desta vez, tudo corra pelo melhor.