Desporto

Ex-árbitro Olegário Benquerença condena “ambiente de terror”

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O antigo árbitro internacional Olegário Benquerença alertou na sexta-feira para a necessidade de contenção no futebol, ao afirmar em Leiria que “nenhuma atividade trabalha a 100% se viver num ambiente de terror”.

“Agora que a época está a terminar, gostaria de deixar uma mensagem: faço votos para que as pessoas aprendam com os erros. Com este caminho não chegaremos lá. O futebol não irá acabar bem se continuarmos com esta senda de guerrilha, com este terrorismo verbal que se assiste diariamente”, disse Olegário Benquerença, antes do jantar de aniversário dos 40 anos da Associação Portuguesa de Árbitros Portugueses (APAF), em Leiria.

O ex-árbitro sublinhou que “ninguém, em nenhuma atividade consegue trabalhar de forma 100% eficaz se viver num ambiente de terror e de constante crispação”.

“Se os agentes do futebol não percebem esta mensagem, então andamos todos enganados e é bom darmos o lugar a outros”, acrescentou.

Afirmando que se afastou do mundo do futebol desde que abandonou a arbitragem, há quatro anos, depois de participar em várias competições internacionais, Olegário Benquerença espera que “a arbitragem portuguesa consiga muito rapidamente retomar aquele trabalho que se iniciou com o Vítor Pereira, em 1998, em França”, com a presença no “campeonato do mundo”.

“Sabíamos que em 2015/2016 era uma época em que os dois árbitros mais categorizados, no sentido da qualificação, iriam sair e deveria ter havido em 2013/2014 um trabalho de retaguarda para que fosse possível esta transição ser feita com toda a naturalidade”, recordou.

Olegário Benquerença lamenta que tal não tivesse sido feito, então, e não está otimista quanto ao futuro: “Não sabemos como vai ser 2020 e como será 2022, e eu tenho sérias duvidas que até 2022 consigamos novamente apanhar o pelotão da frente do que à arbitragem internacional diz respeito”.

Apesar de acompanhar “muito pouco” o futebol, Olegário Benquerença aplaude a introdução do vídeo-árbitro, ao considerar que “todos os meios que existam e que estejam à disposição dos árbitros para que as suas decisões sejam acertadas são sempre bem-vindos, se tal contribuir para a verdade desportiva”.

Para o ex-árbitro, o caminho “tem de ser feito até que a taxa de erro seja de facto mínima”.

“Todos estes erros que eventualmente têm acontecido, mesmo com recurso às tecnologias, são custos necessários que o futebol tem que aceitar e compreender como investimento para que daqui a meia dúzia de anos tenhamos uma habituação dos agentes desportivos para que o futebol seja cada vez mais uma modalidade transparente, com erros residuais”, prosseguiu.

Olegário Benquerença revelou ainda que “os árbitros são os que menos erram em campo”, lembrando que “há estudos que dizem que os árbitros têm uma taxa de acerto de 95% nas suas decisões”.

“Quantos jogos numa época desportiva terminam 0-0? Significa que durante 90 minutos, 22 jogadores não conseguiram introduzir uma bola com 68 centímetros num espaço de 7,32 por 2,44 metros. Porque é que se os jogadores profissionais altamente bem pagos não conseguem colocar bola dentro da baliza e os árbitros têm de acertar todas as suas decisões? Esta é uma verdade, perdoem-me a ousadia, que ninguém pode desmentir”, finalizou.