O grupo parlamentar do PSD só sabe reunir-se “com os seus”?
O Grupo parlamentar do PSD-Madeira anunciou, nesta terça-feira, uma reunião com a secretária regional da Inclusão, Trabalho e Juventude, Paula Margarido, “no âmbito da análise aprofundada ao Orçamento da Região Autónoma da Madeira para 2026”. Este encontro junta-se a um conjunto de outros, também com governantes, realizados nas últimas três semanas.
A esse propósito, um leitor do DIÁRIO peremptoriamente afirma que os membros do Grupo Parlamentar dos social-democratas “só sabem reunir-se com os seus. São discussões em circuito fechado.”
Terá razão o leitor quando faz tal afirmação?
A crítica, repetida com frequência em debates públicos e redes sociais, não é nova. Para avaliar a veracidade do que é dito, vamo-nos centrar nos últimos tempos, sem deixar de espreitar ao que aconteceu para trás. Vamos olhar a notícias publicadas e a iniciativas divulgadas pelo próprio Grupo Parlamentar, tanto através de comunicados à imprensa, como nas suas redes sociais.
Ao longo da última década, mas também anteriormente, encontra-se um número significativo de reuniões entre o grupo parlamentar e vários membros do Governo Regional da Madeira, incluindo secretários regionais das Finanças, da Saúde, dos Equipamentos e Infraestruturas, do Turismo, da Inclusão e da Agricultura, bem como, anteriormente, encontros com o vice-presidente do Governo, entre outros.
Nas últimas semanas, verificam-se também reuniões formais com direcções regionais, como a dos Transportes e Mobilidade Terrestre, e com diversas entidades públicas tuteladas, entre as quais o SESARAM, o IASAÚDE e a SDM. Na maior parte dos casos, estas reuniões ocorreram no contexto de preparação do Orçamento Regional e, noutros contextos, de acompanhamento de políticas sectoriais, confirmando uma prática regular e notória de articulação entre grupo parlamentar e o Executivo.
Também são frequentes visitas e reuniões em unidades de saúde, centros de saúde, escolas, estruturas sociais e espaços sob alçada de organismos governamentais, consolidando a ideia de forte interação interna.
No entanto, a afirmação de que o grupo parlamentar ‘só’ se reúne com estruturas ligadas ao Governo não corresponde integralmente à realidade.
Ao longo dos anos, encontram-se igualmente inúmeros registos de reuniões com entidades externas, sem vínculo governativo directo, como associações de estudantes, ordens profissionais, associações empresariais, sindicatos, associações representativas de e/imigrantes, entre muitas outras.
Existem ainda várias visitas institucionais e participações públicas em eventos abertos, como a Expomadeira ou outras feiras temáticas, em especial do sector primário ou do sector social. Na própria Assembleia Legislativa, o PSD promover um conjunto de eventos, onde pontuam visitas de estudo, que acompanha, ou fóruns de reflexão.
Desde Setembro, contabilizámos 12 encontros enquadráveis como internos, no sentido aqui abordado, com maior incidência após a apresentação do Orçamento da Região para 2026. Um padrão a que se assiste pela segunda vez, neste ano, e que comprova que nos períodos pré-discussão e aprovação do Orçamento, é esse o critério orientador de actuação.
Deste modo, afirmar que o grupo parlamentar do PSD só se reúne “com os seus” é excessivo. É verdade que grande parte das reuniões conhecidas ocorre dentro da esfera governativa ou com entidades tuteladas, o que pode alimentar a percepção política de funcionamento em “circuito fechado”. Contudo, não é correcto afirmar que essa é a totalidade da sua actividade. Há contactos externos, há diálogo com associações, ordens profissionais e entidades independentes.
Assim, a afirmação de que o grupo parlamentar do PSD “só sabe reunir-se com os seus” e que as suas discussões ocorrem exclusivamente em “circuito fechado” é imprecisa: contém um fundo de verdade quanto a uma eventual predominância dos contactos, mas falha ao excluir outras interacções que, embora possivelmente menos numerosas, são reais e comprovadas. Também falha ao não distinguir o tipo de encontros por contexto político.
Assim, avaliamos a afirmação do leitor como imprecisa.