Houve sabotagem no carro do lixo da Câmara de São Vicente?
Poucos dias depois das eleições autárquicas que deram ao Chega uma vitória inédita em São Vicente, conquistando a Câmara, a Assembleia Municipal e as três Juntas de Freguesia, começaram a circular relatos sobre possíveis sabotagens nos serviços municipais.
Ao DIÁRIO chegaram denúncias e alertas que davam conta de ataques deliberados a meios essenciais da autarquia. No centro dessas denúncias, um episódio em particular: num camião de recolha de resíduos sólidos urbanos, alguém teria colocado uma substância estranha (sal ou açúcar, ainda por confirmar) no depósito de combustível.
Os relatos indicavam que a viatura ficara imobilizada, com avarias graves no motor, e que a recolha de lixo teria sido temporariamente afectada. Pior: suspeitava-se que teria sido no camião adquirido em Julho de 2024 o que seria um prejuízo maior, todavia a alegada sabotagem aconteceu no veículo mais antigo. Paralelamente, surgiram mensagens que falavam do desaparecimento de utensílios e ferramentas dos armazéns municipais, alimentando a suspeita de uma acção coordenada.
A Câmara Municipal confirmou, entretanto, parte da informação. Em resposta ao DIÁRIO, o Município esclareceu que “se confirma um episódio de intervenção numa viatura de Recolha de Resíduos Sólidos Urbanos propriedade do Município que se encontrava estacionada no novo armazém municipal, tendo sido colocada uma substância no reservatório do combustível”.
A autarquia acrescentou que a viatura está em reparação e que o caso foi participado à Polícia de Segurança Pública. Sobre o alegado desaparecimento de equipamentos, o gabinete de apoio à presidência, liderada por José Carlos Gonçalves, classificou a informação como “boatos”, sublinhando que não existe qualquer registo de ocorrência formal.
Confirmado está, portanto, um único episódio, circunscrito a uma viatura. Falta, contudo, determinar a natureza da substância encontrada, a autoria da intervenção e a sua motivação. Até ao momento, não existem indícios de que outros veículos tenham sido afectados, nem provas de uma série de sabotagens.
Do ponto de vista técnico, a hipótese de contaminação do combustível é plausível. Mecânicos e peritos ouvidos pelo DIÁRIO explicam que a introdução de qualquer substância sólida ou aquosa num depósito de gasóleo pode provocar danos significativos. Mesmo que sal ou açúcar não se dissolvam, a presença de partículas no circuito é suficiente para entupir filtros e danificar injetores, deixando o motor inoperacional. Trata-se, portanto, de um problema real e compatível com a descrição feita pela autarquia.
O contexto político ajuda a explicar a dimensão do rumor. A recente mudança de poder em São Vicente, num concelho pequeno e tradicionalmente marcado por estabilidade política, criou um ambiente de especulação e desconfiança. O caso ganhou eco nas redes sociais e rapidamente ultrapassou o registo técnico, transformando-se num debate sobre intenções e culpados. Mas, por agora, não há elementos que sustentem uma ligação entre o episódio e o resultado eleitoral.
Separando factos de conjecturas, o que se sabe é simples: houve uma intervenção indevida numa viatura de recolha de lixo, a Câmara apresentou queixa e a PSP abriu investigação. Não há provas de sabotagem em série nem de furtos de equipamentos. As denúncias que chegaram ao DIÁRIO foram determinantes para esclarecer o que se passou, mas, até à conclusão da perícia ao combustível e à divulgação dos resultados policiais, permanecem como alertas que exigem confirmação.
Por agora, o caso resume-se a uma viatura danificada, uma investigação em curso e um conjunto de perguntas ainda sem resposta: o que foi colocado no depósito, quem o fez e porquê. Até essas respostas chegarem, a história mantém-se em aberto.