"Mitra, o depósito dos miseráveis" vence Prémio Vicente Jorge Silva
Quatro jornalistas assinam o texto vencedor da 5.ª edição do Prémio Jornalismo de Excelência do antigo profissional madeirense
Com o título 'Mitra, o depósito dos miseráveis', o "trabalho publicado no jornal Expresso e assinado por Raquel Moleiro, Joana Pereira Bastos, Tiago Miranda e Rúben Tiago Pereira, é o vencedor da 5.ª edição do Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva, atribuído pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), em parceria com o Clube de Jornalistas", anuncia esta quarta-feira a entidade.
De acordo com a nota, "sustentada por uma investigação exemplar, esta reportagem reconstitui o universo de uma época e a forma de como o Estado Novo tratava os mais desfavorecidos. Um trabalho que, conjugando rigor, sensibilidade e precisão narrativa, nos reconcilia com o melhor jornalismo, aquele que devolve clareza à memória coletiva. Neste caso, tocando mesmo a emoção", explica, assim decidiu o júri do Prémio, presidido por Nicolau Santos, presidente do Conselho de Administração da RTP, e composto ainda por David Pontes, director do jornal Público, João Vieira Pereira, director do jornal Expresso, Rui Cardoso, vogal da direcção do Clube de Jornalistas, e Luísa Meireles, directora de Informação da Agência Lusa.
Mitra, o “depósito” dos miseráveis. Documentário sobre um dos capítulos mais sombrios e menos conhecidos do Estado Novo
Nos armazéns de uma antiga fábrica de cortiça, em Lisboa, a ditadura prendeu, ao monte, sem condenação nem recurso, quem queria ‘limpar’ das ruas - pedintes, vadios, aleijados, loucos e prostitutas. A Mitra era a cidade dos mal-amados. Rapavam-lhes o cabelo, metiam-lhes uma farda de cotim e um número ao pescoço, a lembrar um campo de concentração. Controlados pela PSP, mais de 20 mil adultos e crianças foram ali escondidos do olhar público, muitos por várias décadas. Catarina Maria entrou há 70 anos. E ainda lá está
Este trabalho superou outros trabalhos de "grande qualidade" apresentados a concurso, pelo que "o júri decidiu ainda atribuir duas menções honrosas", nomeadamente "ao trabalho de investigação 'O Camaleão' (jornal Expresso), de Cristina Margato e José Pedro Castanheira, classificado como 'surpreendente' e 'profusamente documentado', e a reportagem 'Anatomia de uma detenção pela PSP' (jornal Público), de Joana Gorjão Henriques, Joana Bourgard e José Carvalheiro, 'trabalho que se distingue pelo apuro com que domina as novas técnicas jornalísticas, ferramentas que permitem levar mais longe a reconstituição minuciosa dos acontecimentos'", explica o júri.
O Prémio Jornalismo de Excelência Vicente Jorge Silva da INCM "visa distinguir trabalhos que reforcem os diferentes estilos da imprensa escrita e que contribuam para uma sociedade mais informada, atribuindo ao vencedor uma bolsa de investigação jornalística no valor de 5.000 euros". Recorde-se que Vicente Jorge Silva, nascido no Funchal a 8 de Novembro de 1945 foi, entre outras coisas ao longo da vida, cofundador do jornal Público, do qual o seu primeiro director e, também, do Comércio do Funchal, foi político e eleito deputado, além de cineasta. Faleceu em Lisboa a 8 de Setembro de 2020.
"Naquela que foi a sua 5.ª edição, foram submetidos a concurso 43 trabalhos dos mais variados géneros (reportagem, análise, investigação), assinados por 63 jornalistas de mais de duas dezenas de órgãos de comunicação social", informa a organização.
É inequívoco o contributo cultural e social que o jornalismo presta à sociedade, algo que pretendemos valorizar com este prémio, que nos permite também homenagear uma figura incontornável do jornalismo em Portugal e reconhecer o legado que nos deixou a todos como cidadãos. Conselho de Administração da INCM