Maioria de países sem leis para proteger jovens LGBTI de 'bullying'
Quatro em cada cinco países do mundo não têm leis explícitas para proteger os jovens da comunidade LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo) contra o 'bullying' nas escolas, alertou hoje a organização ILGA World.
A organização não-governamental de defesa dos direitos desta comunidade disse que apenas seis Estados-membros da ONU adotaram legislação anti-'bullying' para proteger os jovens independentemente da orientação sexual, identidade de género, expressão de género e características sexuais (SOGIESC).
Embora tenha reconhecido que pelo menos um destes motivos é explicitamente mencionado nas leis de pelo menos 40 Estados-membros da ONU, a ILGA sublinhou que "isto representa apenas um quinto do mundo".
"Não importa onde iniciamos a nossa jornada, as crenças que nos guiam ou as vidas que podemos construir para as nossas famílias. A maioria das pessoas quer que os jovens tenham segurança durante o percurso de uma educação que lhes garanta um futuro", defendeu o diretor de Programas da ILGA World, Gurchaten Sandhu, em comunicado.
No entanto, para muitos, o 'bullying' tornou-se um grande obstáculo ao longo desse caminho e "quando os governos se recusam a agir" esses obstáculos mantêm-se nas vidas das pessoas, alertou.
"O 'bullying' prejudica a saúde mental dos estudantes LGBTI e reduz as suas perspetivas académicas e de emprego. As consequências aumentam os custos com a saúde e a assistência social", lembrou o responsável, referindo que a inação dos Estados "é má não só para os indivíduos LGBTI, mas para a sociedade como um todo".
Segundo dados da ILGA World, a maioria dos quadros de justiça dos países inclui leis sobre igualdade de tratamento para proteger contra o 'bullying' escolar.
"Fazem-no proibindo o assédio baseado no SOGIESC ou exigindo legalmente que as instituições de ensino incorporem o 'bullying' baseado no SOGIESC nos códigos de conduta e políticas", avançou.
Alguns incluíram o 'bullying' baseado no SOGIESC em leis que protegem especificamente as crianças como um grupo e, num caso (França), punem-no com prisão, referiu.
"Estas leis sugerem que os Estados conseguem compreender o 'bullying' escolar como uma forma muito particular de violência que não tem apenas os jovens como as principais vítimas, mas também como os principais perpetradores", concluiu o investigador da ILGA World Curro Peña Diaz.
"É por isso que, frequentemente, a justiça recorre a abordagens pedagógicas para educar os agressores e proporcionar reparação às vítimas dentro do sistema escolar, em vez de [aplicar] sanções criminais", acrescentou.
A organização congratulou-se ainda por alguns Estados-membros da ONU estarem a tomar medidas concretas para proteger os jovens LGBTI do 'bullying'.
"Nos últimos dois anos, o Chile, a Estónia e a Ucrânia discutiram propostas de lei" nesse sentido, enquanto "o Governo das Ilhas Salomão iniciou uma consulta pública para desenvolver uma política contra o 'bullying' que vise a orientação sexual dos alunos", nomeou a ILGA World.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal do Brasil "decidiu que as autoridades educativas devem prevenir e combater o 'bullying' com base na orientação sexual e identidade de género como parte da sua obrigação legal de garantir a todos o direito à educação sem discriminação", elogiou.
"Incentivamos mais Estados a seguir estes caminhos promissores", sublinharam os cosecretários-gerais da ILGA World, Kimberly Frost e Yuri Guaiana.
"Temos de nos unir e defender leis que garantam que todos os jovens possam desfrutar de uma educação de alta qualidade que lhes permita perseguir os seus sonhos, sem exceções ou obstáculos", concluíram.