Putin dá luz verde a lei que prevê convocação de reservistas
O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou hoje uma lei que permite a criação de unidades contratuais de reservistas para assegurar a defesa das infraestruturas críticas do país.
Anteriormente, a proposta de lei, que permitirá que os reservistas que assinem ou que já tenham um contrato com o Ministério da Defesa sejam enviados para executar tarefas de defesa de infraestruturas críticas, foi aprovado pelas duas câmaras da Assembleia Federal russa.
O vice-chefe do Departamento de Organização e Mobilização do Estado-Maior General das Forças Armadas russas, o vice-almirante Vladimir Tsimliansky, negou que tal implicasse uma mobilização.
"A proposta de lei, elaborada por iniciativa do Ministério da Defesa russo, não afeta todos os cidadãos e não prevê o recrutamento para o serviço militar, nem o envio para a zona da operação militar especial ou para fora do território do país", disse aos jornalistas.
Desde o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, as autoridades russas só uma vez mobilizaram parcialmente cerca de 300.000 homens em idade militar, uma decisão que levou ao exílio de cerca de um milhão de pessoas, de acordo com a agência de notícias espanhola EFE.
Qualquer referência oficial ou na imprensa a uma mobilização provoca um grande descontentamento entre a população russa que, na maioria, exige o fim dos combates na Ucrânia, indicou a EFE.
Mesmo antes da aprovação do Presidente russo, várias regiões começaram a criar unidades de reserva, acrescentou a agência.
Esta medida foi promovida para proteger as infraestruturas críticas face ao aumento dos ataques de drones ucranianos, nomeadamente contra instalações energéticas russas, facto recentemente admitido pelo ex-ministro da Defesa e atual secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, Serguei Shoigu.
"Se há dois anos falávamos de unidades, depois eram dezenas e agora estamos a falar de centenas", afirmou Shoigu, alegando, contudo, que apenas um em cada 100 drones ucranianos atinge alvos em território russo.
Os ataques de drones ucranianos intensificaram-se depois do cancelamento da cimeira de Budapeste entre Putin, e o homólogo norte-americano, Donald Trump, que posteriormente adotou sanções contra duas empresas petrolíferas russas.
De acordo com a organização não-governamental Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) atualmente a Rússia tem dois tipos de reservas: uma "reserva de mobilização humana" à qual é esperada uma maior prontidão, ou seja, uma reserva ativa em que os cidadãos russos assinam um contrato com o Ministério da Defesa numa base voluntária, permanecendo civis exceto quando convocados; e uma reserva inativa composta por homens com idades até 65 e 70 anos que já não têm afiliação às Forças Armadas russas.
A lei assinada por Putin afeta somente a reserva ativa.
Segundo a ISW, a alteração permitirá provavelmente ao Kremlin (presidência russa) enviar reservistas ativos para combate "mais rapidamente do que era possível ao abrigo do mecanismo anterior", que exigia "uma declaração formal de guerra ou uma ordem de mobilização".
A mesma ONG referiu num relatório do mês passado que a criação de um mecanismo para pequenas mobilizações contínuas seria "uma grande inflexão na estratégia de geração de forças da Rússia, que até agora tem procurado gerar recrutas através de incentivos financeiros crescentes e bónus de inscrição para evitar a mobilização obrigatória em massa após a desafiadora chamada de reserva involuntária do final de 2022".
"O atual sistema 'pay-to-play' da Rússia para gerar recrutas está provavelmente a ter resultados decrescentes e está a forçar o Kremlin a adotar uma abordagem diferente, recorrendo à mobilização obrigatória de reservistas para manter os efetivos face à elevada taxa de baixas na Ucrânia", acrescentou o relatório.