Aerobus da Madeira acumula falhas e deixa passageiros sem alternativa

O Aerobus da Madeira, serviço público que assegura a ligação entre a Praia Formosa, no Funchal, e o Aeroporto Internacional da Madeira Cristiano Ronaldo, era pensado como uma solução prática para turistas e residentes nas deslocações de e para o aeroporto. Com paragens estratégicas em vários hotéis e pontos de interesse ao longo da Estrada Monumental, o serviço deveria representar comodidade, previsibilidade e confiança. No entanto, na prática, tem revelado uma organização deficiente, marcada por frequentes falhas operacionais e uma fiscalização considerada insuficiente.

Entre os principais problemas relatados por utilizadores está o incumprimento recorrente de horários, muitas vezes sem qualquer aviso prévio nas paragens ou nas plataformas digitais. Passageiros dão conta de carreiras anunciadas que simplesmente não se realizam, deixando quem depende do serviço sem alternativa imediata.

A situação agrava-se com a utilização de viaturas em fraco estado de conservação, algumas das quais inadequadas ao transporte de bagagem típica dos viajantes aéreos — sobretudo malas de grande porte ou mais pesadas. Há também queixas relacionadas com o escalonamento de motoristas que não dominam qualquer outra língua além do Português, uma limitação significativa num serviço utilizado maioritariamente por turistas.

Outra falha apontada prende-se com o sistema de informação a bordo, cuja sinalização electrónica não é reiniciada no início da carreira. O resultado é um painel desfasado das paragens reais, confundindo ainda mais os passageiros, especialmente aqueles que não compreendem Português.

Exemplo recente ilustra falhas repetidas

No passado dia 6 de novembro, um utilizador habitual do Aerobus planeou a sua deslocação ao aeroporto com o objectivo de chegar a tempo de um voo marcado para as 6h05. Após consultar o horário oficial, decidiu utilizar a carreira das 13h30, partindo da Praia Formosa. Contudo, após mais de meia hora de espera, o autocarro não apareceu. Sem qualquer aviso ou explicação disponibilizados aos passageiros, acabou por recorrer a um serviço TVDE para não perder o voo.

“A carreira estava indicada em todas as paragens e na internet. Não houve qualquer comunicação de que não iria realizar-se”, lamenta o utilizador, que sublinha que episódios como este são comuns e evitáveis.

Um problema estrutural num destino turístico premiado

A Madeira orgulha-se, ano após ano, de distinguir-se internacionalmente como melhor destino turístico, mas situações como as descritas contrastam com a imagem de excelência promovida além-fronteiras. A falta de profissionalismo atribuída a operadores essenciais, a ausência de investimento em formação e o uso de material circulante inadequado são apontados como sintomas de um problema estrutural.

Para muitos passageiros, o Aerobus constitui o primeiro contacto dos visitantes com a ilha. A frustração perante atrasos, falhas de comunicação e desconforto nas viagens representa um cartão-de-visita pouco acolhedor.

Os utilizadores apelam a uma revisão profunda da organização do serviço, a uma fiscalização mais rigorosa e a investimentos que garantam qualidade, segurança e fiabilidade. Num destino cuja economia depende fortemente do turismo, lembram, não basta acumular galardões: é necessário garantir que os serviços básicos estão à altura das expectativas de quem visita — e de quem cá vive.

E o primeiro cartão-de-visita da Madeira não pode ser este!

Vasco Andrade