Os perigos das redes sexuais
As chamadas “redes de encontros” prometem o que toda a gente quer: companhia, atenção e, às vezes, amor. Mas por trás dos sorrisos e das fotos bem escolhidas, há um mundo que poucos entendem e muitos subestimam. Tinder, Badoo, Grindr, chamem-lhes o que quiserem, tornaram-se o palco onde milhões de pessoas procuram relações rápidas, leves e sem complicações.
O problema é que a leveza tem um preço.
Estas redes nasceram com o disfarce da modernidade: liberdade sexual, igualdade, praticidade. Mas, na verdade, abriram portas para um novo tipo de solidão e de crime. O corpo tornou-se um produto em exposição e o desejo, um negócio. A fronteira entre prazer e perigo tornou-se cada vez mais fina.
Quantos casos já vimos de encontros que acabaram em burlas, roubos, chantagens, ou até violência sexual? As notícias multiplicam-se, mas as pessoas continuam a achar que controlam o risco. O instinto humano da conquista foi substituído por um algoritmo, e o instinto raramente perde para uma máquina.
Estas plataformas transformaram o amor e o sexo em consumo rápido.
Desliza-se o dedo como quem escolhe fruta num mercado: esta sim, esta não.
E cada rejeição alimenta mais vazio do que antes. A aparência substitui o carácter, a emoção cede ao impulso e o resultado é uma geração de gente permanentemente insatisfeita, a procurar no ecrã o que falta na alma.
Mas o verdadeiro perigo nem está só na desilusão, está no crime.
Há redes organizadas que usam estas plataformas para enganar, seduzir e extorquir. Homens e mulheres são atraídos por perfis falsos, levados a enviar dinheiro, fotografias íntimas ou a marcar encontros que acabam em tragédia.
O anonimato protege o criminoso e expõe a vítima.
O mais preocupante é a normalização disto tudo.
Já quase ninguém acha estranho que o “amor” comece com uma foto e acabe num deslize de dedo. A procura por algo genuíno foi engolida pela pressa e pelo desejo. A carne substituiu o coração, e o respeito desapareceu pelo caminho.
É claro que nem tudo é mau. Há quem encontre verdadeiras relações nestas redes, mas são a exceção, não a regra. A regra é a superficialidade, o engano e o risco.
A tecnologia deu-nos a ilusão de poder escolher quem quisermos, quando quisermos. Mas o que ela realmente fez foi afastar-nos de quem está mesmo ao nosso lado.
António Rosa Santos