DNOTICIAS.PT
Desporto

“Quando houver maior competência de todos os lados, o futebol feminino vai evoluir”

A jogadora do Marítimo, Rita Coutinho abordou a situação actual do futebol feminino em Portugal, que ainda não permite uma carreira sem plano B e, onde a profissionalização não chega a todas

Profissionalização que tarda: Jogadora aborda a situação actual do futebol feminino em Portugal
Profissionalização que tarda: Jogadora aborda a situação actual do futebol feminino em Portugal

Ao DIÁRIO-Desporto, Rita Coutinho, que já conta uma vasta experiência no futebol português, explicou em que pontos a modalidade evoluiu, o que proporcionou esse crescimento e o que ainda está em falta.

A jogadora que começou a jogar com rapazes, como normalmente acontece, já envergou a camisola do Viseu 2001, Cadima, Clube de Albergaria, Torreense, Amora e, agora Marítimo, desde o arranque da presente campanha, mas não sem antes passar pela série C italiana ao serviço do  Gelbison.

Na entrevista, que decorreu no Campo da Imaculada Conceição, em Santo António,  a 'casa' da equipa principal feminina verde-rubra, a atleta que actua no meio-campo, começou por explicar ao DIÁRIO que a principal diferença entre jogar em Portugal e em Itália foram as condições disponibilizadas na última, onde mesmo numa série C, “eramos todas profissionais”, o que não acontece na I Divisão Nacional portuguesa.

“Nós éramos todas profissionais, treinávamos de manhã, tínhamos alimentação, alojamento, tínhamos preparador físico, fisioterapeuta, tínhamos uma clínica incrível para fazer reabilitação. Portanto, o que me chamou a atenção foram as condições e depois o estilo de jogo que é mais intenso, maior agressividade, mais duelos, tudo características que sentia que tinha de melhorar”, apontou a atleta de 27 anos, quando questionada sobre o que a motivou a optar pela formação italiana.

Rita Coutinho experienciou a evolução da modalidade em Portugal, referindo que o que impulsionou esta mudança no futebol feminino “foi a vinda de cada vez mais jogadoras estrangeiras para cá, com características físicas e com outro tipo de mentalidade.”

Ao nível de jogo garante que as principais mudanças que sentiu ao longo dos anos “foi em termos de agressividade e intensidade, tanto nas partidas, como nos treinos.”

Levada a eleger em que momento a modalidade passou a ser encarada com mais seriedade, a atleta não hesitou e adiantou que “foi com a entrada dos ‘grandes’”.

“Passou a ser possível pensarmos que podíamos ser profissionais de futebol, que é algo que quem gosta realmente de jogar futebol sonha ser. Felizmente com a entrada destas equipas houve cada vez mais clubes a apostar mais no futebol feminino e fez com que isso fosse possível.”

Viver do futebol em Portugal, quando falamos de mulheres em campo, só é possível a curto prazo, segundo Rita Coutinho, que garante ser impensável não ter um plano B, sendo essa a razão de ter optado por estudar, uma opção que adiantou que lhe “fecharam muitas portas” no futebol.

Se pensarmos a curto prazo, sim, mas a longo prazo não. É impensável, porque a carreira de um futebolista é muito curta e a nível monetário, por exemplo, com o que nós recebemos, só podemos pensar a curto prazo, não podemos fazer como os jogadores masculinos que conseguem juntar dinheiro e depois conseguem viver uma vida estável e tranquila. Rita Coutinho

A jogadora maritimista que conta com um mestrado em ensino de educação física, garante que teve a sorte de passar por clubes que lhe permitiram prosseguir os estudos, mesmo só conseguindo treinar uma ou duas vezes por semana.

Fique a saber o que está a faltar ao futebol feminino em Portugal, o que disse Rita Coutinho sobre não haver pela primeira vez, em 30 anos, treinadoras portuguesas no principal escalão feminino e como é vê a modalidade daqui a 10 anos.