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Fact Check Madeira

Em caso de incêndio como nos Açores, a Madeira tem alternativa ao principal hospital?

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Foto Eduardo Costa/Lusa

O Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, o maior dos Açores, enfrentou, ontem, um incêndio na área técnica, que obrigou a realizar uma evacuação, com a retirada de cerca de 300 doentes para outras unidades de saúde e ao encerramento das urgências, do bloco operatório, do bloco de partos e da unidade neonatal.

Perante as imagens de aflição vindas dos Açores, alguns profissionais do SESARAM interrogavam-se sobre como seria idêntico evento no principal hospital da Região Autónoma da Madeira, o Dr. Nélio Mendonça. A visão que predominou foi de que a Madeira tem algumas vantagens, no que respeita a alternativas para a colocação de doentes.

Mas os factos apontam nesse sentido?

Existem algumas diferenças significativas entre o principal hospital dos Açores e o da Madeira. O Hospital do Divino Espirito Santo desenvolve-se mais na horizontal, correspondendo a unidades mais recentes, e o Hospital Dr. Nélio Mendonça, com mais de 50 anos, na vertical. Na unidade açoriana, a área técnica está mais afastada dos serviços que recebem directamente os doentes do que o equivalente na Cruz de Carvalho. Estas são diferenças muito importantes para o momento do combate às chamas e para a maior ou menor dificuldade em retirar doentes, profissionais de saúde e visitas. Mas esse não é esse o foco desta análise.

Aqui pretendemos verificar se a Madeira tem espaços e serviços alternativos que, em caso de ser necessário encerrar as urgências do Hospital Dr. Nélio Mendonça, o Bloco Operatório, o Bloco de Partos e a Neonatologia, e retirar outros doentes, possam ser usados, à semelhança do que aconteceu nos Açores.

Ora, os dados estatísticos disponibilizados pela Direcção Regional de Estatística, relativos a 2022, dizem a Madeira tem 3 hospitais públicos, 4 privados com fins lucrativos e outros 3 sem fins lucrativos. Também dizem que havia 14 salas de operação, cinco no público e 9 no privado (entretanto as obras no Bloco do Hospital Dr. Nélio Mendonça ficaram concluídas).

Entre os hospitais privados, conta-se o Hospital Particular da Madeira que tem serviço de urgências, urgência pediátrica, bloco operatório, maternidade e cuidados intensivos, além de, naturalmente, internamento. Ainda que com mais limitações, a Madeira também dispõe do Hospital da Luz (antiga Clínica de Santa Catarina), das Clinicas de Santa Luzia e da Sé, todas com capacidade de internamento.

O recurso a estas unidades seria para os doentes mais graves, que estariam ou necessitariam de acorrer ao Hospital Dr. Nélio Mendonça e que, na indisponibilidade deste, teriam alternativa, ainda que, pelo menos em boa parte, com o mesmo pessoal, que seria realocado.

Além disso, a Região e no caso, a ilha da Madeira, dispõe de um conjunto de centros de saúde com boa capacidade de resposta para urgências básicas e até algumas um pouco mais complexas, como é o caso do Centro de Saúde de Machico. Além do serviço público, existem várias unidades de saúde privadas com urgência básica que, em caso de necessidade, também poderiam ser chamadas a intervir, se necessário, conjugadas com equipamentos, por exemplo, de imagiologia.

A Madeira, com a vantagem de ter quase todos os equipamentos concentrados numa ilha, à excepção do Porto Santo, e os Açores por nove, tem conseguido fazer investimentos relevantes nas unidades de saúde. Tanto na renovação de instalações e equipamentos nos cuidados de saúde primários, como nos hospitais. A renovação do Hospital dos Marmeleiros e as obras na Urgência de Adultos e Bloco Operatório do Hospital Dr. Nélio Mendonça são exemplo.

Tais obras são referidas neste contexto devido à provável origem do incêndio no Hospital de Ponta Delgada: quadro eléctrico. Ainda ontem, o presidente do Governo Regional dos Açores chamava a tenção para a necessidade de realizar um investimento robusto para reabilitar e inovar todo o serviço regional de saúde. “Precisamos de compreender no domínio político a importância de olharmos para a situação ao longo de todos estes anos dos nossos equipamentos e instalações para termos um investimento robusto para reabilitar e inovar, além de mobilizar e ampliar instalações de saúde ao longo de todo o SRS”, disse José Manuel Bolieiro à RTP-Açores, citado pelo jornal Expresso.

Assim e como se concluiu pelo que foi referido, a Madeira teria, no mínimo, condições alternativas semelhantes às registadas na ilha de São Miguel. Mas tudo aponta até para a existência de melhores condições na ilha da Madeira. Por isso, o sentido geral das afirmações dos profissionais de saúde do SESARAM é verdadeiro.

A Madeira está tão bem ou melhor preparada do que os Açores para cuidar dos doentes em caso de incêndio no hospital (Dr. Nélio Mendonça) – discussão entre profissionais de saúde.