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Madeira

Pescadores e armadores desagradados concentram-se no Caniçal

Presença inesperada de Rafaela Fernandes vista como “jogada política” para apaziguar os ânimos

Pescadores e armadores encontraram-se, esta manhã, com Rafaela Fernandes, no Caniçal. 
Pescadores e armadores encontraram-se, esta manhã, com Rafaela Fernandes, no Caniçal. , Foto DR

As versões não coincidem, mas o certo é que mais de três dezenas de pescadores e armadores encontraram-se, na manhã desta quarta-feira, com a secretária regional de Agricultura e Ambiente, no porto do Caniçal.

Desagradados com as políticas seguidas no sector da pesca na Região, os homens do mar dizem que na origem desta concentração esteve a preparação de uma “grande manifestação” para dar conta, precisamente, do descontentamento generalizado que a classe sente.

Ao DIÁRIO, Vítor Sousa, que esteve presente, esta manhã, na lota do Caniçal, diz que a ideia era definir uma data para concentrar o maior número de embarcações de pesca, pescadores e armadores e “entrar no Porto do Funchal, com sirenes e com toda a força”, paralisando a operação portuária se necessário fosse, como forma de alertar os governantes e os madeirenses para a “descadência” e a “situação muito difícil” em que se encontra o sector.

Este armador com dois dos maiores barcos que se dedicam à pesca do atum diz que o grupo foi surpreendido pela chegada de Rafaela Fernandes, governante que não tem a tutela das pescas. “Alguém do Governo adivinhou, não sei como, e a senhora secretária achou por bem vir ao Caniçal para pôr paninhos quentes na situação”, constata. E continua dizendo que “ela disse que já estava marcado na agenda vir aqui”, refutando não ser esse um cenário credível.

Vítor Sousa diz ter questionado Rafaela Fernandes se esta iria ficar com a tutela das pescas, ao que a governante terá respondido que estava do lado dos pescadores e que reconhecia os seus problemas. “Eu acho que temos um secretário das Pescas que poderia muito bem marcar presença, mas não marcou”, contesta.

Sobre a manifestação, o armador diz que a mesma vai para a frente, não adiantando, ainda assim, qualquer data para a concretização da mesma.

Quem contrapõe parte deste cenário é Jacinto Silva. Ao DIÁRIO, o presidente da Coopesca – Cooperativa de Pesca do Arquipélago da Madeira afirma que o encontro com Rafaela Fernandes já estaria previamente agendado e que os pescadores concentraram-se tendo conhecimento da situação, querendo mostrar o seu descontentamento. “Não estava a ser preparada manifestação nenhuma”, garante aquele responsável.

O motivo do encontro do presidente da Coopesca com a governante, apontou, seria a pesca nas Selvagens. 

Mas, por sinal, nada estaria previamente combinado com os pescadores e armadores. Isso mesmo acabou por confirmar a própria Rafaela Fernandes, dando conta de que a sua deslocação à Ponta de São Lourenço teria outro intuito. Diz não ter sido alertada para qualquer concentração dos homens do mar, no Caniçal, reafirmando que tal "foi mesmo por puro acaso". 

"Uma pessoa vem à Ponta de São Lourenço para resolver um problema da Ponta de São Lourenço e depois vai tomar um café e falar com o representante da Coopesca e, de repente, é notícia no País inteiro", começou por dizer a governante, salientando não ter qualquer responsabilidade no sector das pescas, dizendo desconhecer que medidas terão sido implemantadas pelo seu colega de Governo, Rui Barreto. 

Mas aproveitando a presença de tantos pescadores e armadores no local, Rafaela Fernandes diz ter aproveitado a ocasião para esclarecer todos os presentes sobre um assunto que está sobre sua tutela, nomeadamente a pesca de gaiado nas Selvagens. A secretária de Agricultura e Ambiente diz que está a ser estudada a possibilidade de a pesca à linha dessa espécie poder vir a acontecer naquela reserva marinha, sendo necessário "técnica e cientificamente avaliar" a situação actual. 

"Este encontro foi um mero acaso, da minha parte. Mas assim, em vez de falar com três ou quatro, já falei com todos, o que é bom", constata a secretária regional, deixando a nota de que ficou acordado os pescadores fazerem chegar à Secretaria aquele que é o seu compromisso em relação à pesca responsável naquele arquipélago.