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Boa Noite

O "tempo muito curto"

Luís Montenegro tem o destino traçado. Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se "cooperante", mas já definiu timings e encargos

Boa noite!

Luís Montenegro tomou hoje posse como primeiro-ministro. Um acto solene que lhe permitiu falar e assim quebrar o irritante silêncio auto-imposto; garantir que vai governar os quatro anos e meio da legislatura", pois "não está aqui de turno" nem para "fazer apenas o mais fácil"; lançar desafios aos agentes do previsível bloqueio democrático; desmistificar que Portugal não ficou rico "só porque tem superavit orçamental"; e citar Camões, Sophia de Mello Breyner e o Papa Francisco.

Embalado ainda pelos soundbites da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, o chefe do governo parafraseou o papal "todos, todos, todos" para apelar à colaboração de todos os sectores da sociedade, incluindo os partidos políticos e as Regiões Autónomas, por sinal, arrumadas no discurso oficial depois das autarquias. E repetiu que conta com todos. Tomamos boa nota, tenha ou não “longos tempos o Governo”.

Para quem garante estar na vida pública sem se render a jogos de semântica ou a politiquices estéreis, convém contar com muitos mais, e com aquilo que tem feito cair governos. Sim, conte sobretudo com o imprevisto, o que nenhum executivo controla, goze ou não de maiorias confortáveis ou de conjunturas favoráveis.

O imprevisível anda por perto e na hora do aperto é o único que realmente conta, sem que tenha de dar explicações para as convicções inquestionáveis, mesmo que sufragadas, alegadamente de Estado.

O perigo mora ao lado, como se depreende do caderno de encargos ditado pelo Presidente da República na tomada de posse de hoje. A lista de recados é exaustiva e culmina com o aviso de Marcelo para o "tempo muito curto" que há para cumprir "o que foi prometido em campanha", sendo incerto se esse tempo se resume a meses presidenciais ou aos anos todos da legislatura. Tudo vai depender da interpretação de  "apoio solidário e cooperante" no contexto em que o mesmo for solicitado.

O primeiro-ministro que se cuide se é que, numa louvável estratégia inclusiva, quer mesmo contar com todos. O gesto de boa vontade até pode ser muito cristão, mas ameaça vem de Belém.