Carta Aberta ao Exmo. sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Santo

Ponto prévio. Conheço o sr. Presidente desde menino e os seus pais, por quem nutro muita consideração e respeito. Por isso, nada do que aqui descrevo é a título pessoal, nem deve ser entendido nesse sentido.

Exmo. Sr. Presidente, começo por apresentar-lhe os meus cordiais cumprimentos e pedir desculpa por usar deste meio para chegar até si. Creio que a sua agenda estará totalmente preenchida, sem espaço para poder atender-me. Assuntos sérios e inadiáveis ocuparão, com certeza, todo o seu precioso tempo.

Peço que, a uma das suas pausas para o café, subtraia breves minutos, o tempo necessário para ler esta carta, se lhe aprouver, naturalmente.

Já se apercebeu, por razões que não vêm ao caso, que eu prezo muito a minha liberdade de expressão e que dispenso intermediários quando se trata de expor a minha opinião, seja qual for o propósito ou assunto que, directa ou indirectamente me diga respeito, e sempre que considero oportuno.

Sigo atentamente (embora não pareça) o seu percurso nas funções que agora desempenha. Tenho-o ouvido afirmar diversas vezes nas suas alocuções ou discursos que é o Presidente de todos os porto-santenses, mesmo dos que não votaram em si. Como votar é um acto solitário nunca ninguém poderá afirmar com toda a segurança quem votou em quem. Por suposição, talvez. Não se esqueça de que as traições vêm sempre de quem está mais perto. Judas também esteve à mesa com Jesus. Quem “traiu “os que o precederam não terá pejo em fazê-lo consigo. É muito comum.

Sendo o Presidente de todos nós seria suposto agir de igual trato com todos, sem excepção. Não é o que dizem muitos dos que o acompanharam na campanha com apoio explícito e, agora, se sentem ignorados, quer por um banal cumprimento quer em relação a promessas não cumpridas. Há até quem se sinta muito constrangido quando, num local público, o sr. Presidente cumprimenta uns e ignora outros, talvez os que não têm medo da verdade nem gostam de bajulação. Será?

Sr. Presidente, eu moro há 40 anos na mesma casa e no mesmo sítio. Não sei muito bem porquê, não foi tida nem achada, já me atribuíram diversos endereços, o último dos quais Rua Caminho Velho de São Pedro 16. Pois bem, o caminho “velho” para São Pedro era um “afluente” do Ribeiro Salgado, a dois passos da minha habitação. O acesso para a moradia era particular, mas por motivos de destaque do terreno contíguo, desde alguns anos a esta parte, passou a Estrada Municipal, segundo a lei vigente.

Fiquei perplexa quando, no leito do Ribeiro Salgado, “no Caminho Velho de São Pedro”, foi construída uma ponte, pavimentada uma estrada e canalizados esgotos, para serventia de três moradias. Não estão em causa os moradores, pois todos têm direito a um acesso condigno e a saneamento básico. Isso nem é discutível. Então e eu? Eu pago todos os meus impostos como qualquer munícipe. Não devo nada à Câmara nem ao fisco, acho eu, por que tenho tratamento diferenciado? Por que não tenho direito a saneamento básico ligado à rede pública e a um acesso condigno? Qual é a justificação? Por acaso, o orçamento adjudicado à obra em causa também contemplou a reparação de muros particulares, executada por trabalhadores municipais?

Vou ter de esperar mais 40 anos, como esperei pela mudança do contador da água para a minha casa?

Não vou esperar sentada.

Algures alguém terá a resposta que mereço.

Mesmo partindo do princípio que, se não leu, alguém lerá por si, antecipadamente agradeço a atenção dispensada.

Madalena Castro