Vacinação pode evitar meio milhão de mortes reduzindo resistência a antibióticos
As vacinas podem evitar mais de meio milhão de mortes anuais relacionadas com a resistência aos antibióticos, um problema de saúde pública que matou cinco milhões de pessoas em 2019, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A estimativa consta do relatório hoje divulgado pela OMS sobre o impacto das vacinas na redução do uso de antibióticos e na resistência antimicrobiana (RAM), considerado um "dos mais importantes problemas globais de saúde pública e ameaça ao desenvolvimento".
O estudo adianta que se estima que, em 2019, cinco milhões de vidas "foram perdidas em todo o mundo como resultado da RAM", que ocorre quando as bactérias, os vírus e os parasitas evoluem ao longo do tempo e deixam de responder aos medicamentos.
Como resultado desta resistência, os antibióticos tornam-se ineficazes, o que significa que as infeções ficam mais difíceis ou impossíveis de tratar, aumentando o risco de propagação de doenças, de incapacidade e de morte.
"As vacinas têm o potencial para evitar cerca de 515 mil destas mortes a cada ano, reduzindo a incidência de infeções, a transmissão de agentes patogénicos, o uso de antibióticos e, subsequentemente, a evolução de genes resistentes", salienta a OMS.
O papel das vacinas na redução da resistência antimicrobiana tem sido sub-reconhecido, alerta ainda o relatório, ao referir que a imunização tem o "poder treinar o sistema imunitário para montar uma defesa" contra vários agentes patogénicos antes de uma infeção começar ou de se tornar grave.
De acordo com o estudo, que se centra em 24 agentes patogénicos e 44 vacinas, algumas das quais ainda em diferentes fases de desenvolvimento, as pessoas vacinadas terão menos infeções, ficando protegidas contra potenciais complicações de infeções secundárias que possam necessitar do uso de medicamentos antimicrobianos ou exigir internamento hospitalar.
Além disso, as vacinas podem também reduzir a oportunidade de as bactérias trocarem material genético entre si, incluindo genes que conferem resistência aos antibióticos, explica a OMS, ao realçar que o objetivo da vacinação é estabelecer um estado mais saudável com uma circulação reduzida de agentes patogénicos e doenças, minimizando a dependência de antibióticos.
"Isto beneficia as populações vulneráveis, garante também a eficácia prolongada dos antimicrobianos, atenuando o desenvolvimento de resistência aos novos tratamentos e aos existentes", adianta a OMS.
Em relação às vacinas existentes atualmente, a OMS estima que poderiam evitar anualmente até 106 mil mortes, 861 milhões de dólares (784 milhões de euros) em custos hospitalares e 5,9 mil milhões de dólares (5,3 mil milhões de euros) em perdas de produtividade associados à RAM, assim como reduzir o uso de antibióticos em 142 milhões doses diárias.
A OMS considera ainda que as vacinas em fase inicial de desenvolvimento poderiam contribuir para evitar 408 mil mortes por ano, assim como 30 mil milhões de dólares (27 mil milhões de euros) em custos hospitalares e 17,7 mil milhões de dólares (16,1 mil milhões de euros) em perdas de produtividade.
Como recomendações, o relatório indica que as estratégias globais, regionais e nacionais de redução antimicrobiana devem incluir a vacinação como forma de minimizar a RAM e que a introdução das vacinas existentes deve ser acelerada e a sua cobertura aumentada a nível global.
Todas as vacinas pediátricas existentes devem atingir as metas da Agenda de Imunização 2030 e a utilização de vacinas em grupos etários mais velhos também deve ser considerada, recomenda também a OMS.
Dados da OMS indicam que, desde 1974, a vacinação contra 14 agentes patogénicos em 194 Estados-membros da OMS evitou 154 milhões de mortes, incluindo 146 milhões de óbitos entre crianças com menos de cinco anos.