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Dividir para conquistar

O conceito divide et impera (em português “dividir para conquistar”) baseia-se numa estratégia que tenta romper as estruturas de poder existentes e impedir que grupos menores se juntem, utilizada para derrotar adversários, seja no contexto político ou sociológico. Foi aplicada por vários imperadores ao longo dos séculos (Júlio César, Napoleão, entre outros).

A Humanidade depara-se atualmente com problemas estruturais e tem passado por várias crises graves. Ainda assim, continua a fragmentar-se em áreas chave. A concentração de poder e o aumento das desigualdades (sociais e económicas) caminham lado a lado e a cada nova ameaça tenta-se “tapar o Sol com uma peneira”, fazendo referências em documentos intermináveis ao que tem que ser feito – como o abandono dos combustíveis fósseis na COP28. Passar do papel à prática, isso já é outra história…

Falta trabalhar a empatia. Nas guerras a que temos assistido, a solidariedade deste canto do Planeta para com as populações atingidas é “diferente” se a religião também for “outra”, se os costumes forem “estranhos”, entre outras características e estereótipos. Isto entristece-me porque considero que os seres humanos deveriam ser tratados todos por igual, com os mesmos direitos e deveres.

A nível social, apesar de se falar em democracia, no respeito e na união em prol de causas transversais, continua-se a encarar muita coisa como concorrência, a desvalorizar e a desperdiçar recursos e a secundarizar o que está na base de muitos problemas sociais. Apostar no empoderamento das pessoas para que tomem as rédeas das suas vidas e sejam, elas mesmas, agentes da mudança em prol duma sociedade mais inclusiva e justa, de todas as idades e classes sociais, não vai de encontro do divide et impera. Na verdade, ainda assusta.

É necessária uma mudança de paradigma. Em vez de dar o peixe, é preciso ensinar a pescar. Trabalhar o que está na base das violências, discriminações e preconceitos. Fazer com que as pessoas descubram e acreditem no seu valor, que não é mensurável de forma imparcial em prémios ou quadros de mérito, é fundamental para que se sintam motivadas para fazer a diferença no seu meio.

É preciso, também, acabar com as comparações e com os idadismos, que não afetam apenas as pessoas séniores. Tal como é péssimo tratar uma pessoa sénior como se fosse “inútil”, como se já não tivesse nada a oferecer e falar-lhe como se fosse uma criança, para uma pessoa mais nova é, por vezes, desmoralizante e cansativo que seja comparada frequentemente aos seus antepassados, como se “nunca lhes fosse chegar aos calcanhares”, por mais amor, respeito e admiração que lhes tenha. Cada pessoa, desde criança a sénior, é única, merece uma oportunidade para trilhar o seu caminho, e deve ser tratada com respeito, do início ao fim, sem rótulos e pesos, e com uma palavra a dizer acerca de si mesma.

Acredito que sem o divide et impera, seríamos bem melhores. Que 2024 seja um ano com mais leveza, liberdade e união, em prol do que realmente importa.