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Crónicas

A convenção do Chega e as eleições

André Ventura é um líder muito mais forte, carismático e bem preparado do que Luís Montenegro

Este fim de semana decorre a Convenção Nacional do Chega que elegeu quase por unanimidade André Ventura como seu líder praticamente incontestado. Não seria de resto de esperar outra coisa. É opinião unânime entre os militantes, que sem ele o partido perderia grande parte da sua força. Das ideias que foram saltando cá para fora poucas novidades. Um discurso marcadamente populista sem ideias concretas para o país, funcionando mais como contra poder do que propriamente como solução. Alguns soundbytes para ganhar votos como a subida das pensões ou a criação de um fundo para apoiar as forças de segurança e os ex combatentes, devolvendo o dinheiro que supostamente está consignado no Orçamento de Estado, para os temas da ideologia de género e para a igualdade, mas que o próprio já veio assumir que não é bem assim e que se estava na realidade a basear em métricas, quando chegou aos 426 milhões de euros.

Mas desta convenção, sai também, se dúvidas restassem, uma certeza. André Ventura é um líder muito mais forte, carismático e bem preparado do que Luís Montenegro. Desconfio até de que se não tivesse sido encostado por Rui Rio e fosse ele por esta altura o líder dos sociais democratas, a história seria outra. O líder da direita radical ( não embarco na conversa da extrema direita ) tem na ponta da língua soluções aparentemente fáceis e gulosas para parte da sociedade portuguesa e tem como bandeira um tema forte e cada vez mais sensível que é o da imigração, tema esse que deveria ser discutido por todos. Mas tal como no futebol em que se costuma dizer que uma equipa só joga o que a outra a deixa jogar, nesta pré campanha Luís Montenegro está a deixar André Ventura jogar e no campo todo, o que lhe poderá evidentemente trazer alguns dissabores. Sobretudo porque decidiu embarcar na cantiga das linhas vermelhas que nunca foram sequer colocadas do lado contrário e criou um problema para si e para o seu partido caso não vença com maioria.

O candidato a primeiro ministro laranja parece aliás encurralado entre diversas forças políticas (quando tinha tudo para ganhar estas eleições) e insiste num discurso que mais parece tirado do livro “O diário de um totó”, com direito a caças aos gambozinos e outras tiradas em que parece querer ser engraçado mas não ter muito jeito para a coisa. Com a bancada parlamentar mais fraca de sempre de saída, restará a esta nova Aliança Democrática apresentar listas fortes com candidatos que entusiasmem e credibilizem aquilo que o seu primeiro nome não consegue fazer. Parece-me que aqui, alguns bons quadros do CDS poderão vir a fazer a diferença. Resta perceber se conseguirá o PSD e o CDS, apelar ao voto útil e retirar assim alguma força ao Chega e à Iniciativa Liberal. Os liberais que muito prometeram e que têm de facto uma das visões mais modernas e concretas para o país mas que podem vir a sofrer com essa questão (voto útil) mas também e sobretudo com o facto do seu líder não ter o carisma de João Cotrim de Figueiredo.

À esquerda Paulo Raimundo também não cativa e teme-se que o PCP possa ter a sua votação mais parca de sempre, abrindo espaço para o voto útil no PS, que com Pedro Nuno Santos como secretário geral e Manuel Alegre presidente honorário assume claramente uma visão mais estatizada. O discurso do líder rosa no final do seu congresso parece aliás retirado de uma fábula em que por momentos nos quis fazer crer que não foi o Partido Socialista que governou nos últimos 8 anos e nos atirou para a cauda da Europa. Mariana Mortágua que muito prometeu como deputada parece não estar a conseguir descolar, nem intrometer-se na luta, Chega-AD-PS, veremos que cartas tem ainda para lançar até às eleições até porque o Livre de Rui Tavares parece estar a conseguir granjear alguma popularidade à esquerda e pode bem vir a ser uma das boas surpresas na noite de 10 de Março.

Espera-nos por isso uma das campanhas mais sujas e rasteiras de sempre em que tudo ou quase tudo valerá para conquistar votos. Já se percebeu que se foi perdendo a vergonha na cara e tudo se promete sem que se olhe a meios ou à exequibilidade de parte do que se diz. Não sabemos o que nos trazem os próximos episódios mas tendo por certo que os debates serão ao nível de uma telenovela mexicana.