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"Pediram-me que me demitisse" na véspera do anúncio da exoneração

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Foto JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

A presidente executiva da TAP disse hoje que lhe foi pedido que se demitisse, numa reunião com Fernando Medina, na véspera do anúncio público da exoneração dos presidentes da companhia, apesar do reconhecimento do "trabalho fantástico" da gestora.

Questionada pelo deputado do PSD Paulo Moniz, na comissão de inquérito à TAP, sobre uma reunião em 05 de março, com o ministro das Finanças, na véspera do anúncio público da sua exoneração, Christine Ourmières-Widener assumiu que foi um encontro "pesado".

"Pediram-me que me demitisse", revelou a gestora, depois de admitir que é um assunto "ainda muito doloroso" e de consultar os advogados que a acompanham.

Numa anterior resposta à deputada bloquista Mariana Mortágua, a presidente executiva da TAP disse que, naquela reunião, apesar de lhe ter sido que a situação estava "muito complicada", não foi informada de que seria demitida por justa causa no dia seguinte.

"O tom da reunião foi muito triste, dizendo-me que os meus resultados eram fenomenais e que eu tinha feito um trabalho fantástico, que era a pessoa certa para o cargo e que este processo [de indemnização a Alexandra Reis] tinha sido conduzido por mim com boa-fé, mas perante toda a pressão de diferentes partes, não restava ao Governo outra opção, não vendo a continuação do meu mandato", afirmou Ourmières-Widener.

Segundo a gestora, na reunião foi reconhecido que o processo de saída de Alexandra Reis foi gerido pela presidente executiva, com base no parecer de consultores.

Christine Ourmières-Widener sublinhou que foi uma "reunião muito pesada", por ficar a saber que tinha de deixar a companhia devido a um processo que tinha já causado a demissão de um ministro e de um secretário de Estado, com quem trabalhou e com quem tinha "uma relação fantástica".

Christine Ourmières-Widener é a terceira personalidade, de uma lista de cerca de 60, a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda.

A ainda presidente executiva da TAP contestou o despedimento e acusou o Governo de ter tido "pressa política" para a demitir, segundo a contestação da defesa, citada pela TVI/CNN.

O Governo anunciou, em 06 de março, que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) tinha concluído que o acordo celebrado para a saída antecipada de Alexandra Reis da TAP era nulo e que ia pedir a restituição dos valores.

Os ministros das Finanças e das Infraestruturas anunciaram também a exoneração com justa causa da presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja.

A verificação pela IGF da legalidade da indemnização paga a Alexandra Reis foi determinada em 27 de dezembro do ano passado pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, e pelo então ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos.

Em dezembro, Alexandra Reis tomou posse como secretária de Estado do Tesouro, tendo então estalado a polémica sobre a indemnização que recebeu quando saiu da companhia aérea detida pelo Estado, levando a uma remodelação no Governo, incluindo a saída de Pedro Nuno Santos, que foi substituído por João Galamba.