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Perdoai-lhes Senhor, eles não sabem nem o que dizem, nem como o fazem

O último mês foi fértil em acontecimentos. Desde o PREC da Habitação, passando por vários exemplos de plágio nas iniciativas apresentadas na Assembleia Legislativa Regional e acabando num líder partidário que diz “ser o único interessado em apurar toda a verdade” sobre umas declarações, mas é o primeiro a mentir quando se trata das suas ligações a privados, o carnavalesco mês de fevereiro trouxe de tudo um pouco.

A Habitação é mais um exemplo paradigmático deste Governo da República. Alguém que em 7 anos não apresentou qualquer solução para o problema, diz agora ter o remédio para todos os males. Problema? No seu vasto rol de medidas sabe que muitas delas baterão na trave do Constitucional resolvendo assim o problema da perceção pública de que nada fez sobre o assunto. Costa poderá dizer “eu tentei, mas o Constitucional não deixou”, pelo que na vida das pessoas nada mudará, mas ficará sempre a ideia de que tentou fazer alguma coisa.

O problema da Habitação está na subida de custos dos materiais, da pouca oferta no mercado e na irremediável subida das taxas de juro para combater a inflação. Para que se tenha uma ideia, até 2011 edificavam-se em Portugal 120 mil novos fogos por ano. Após a crise de 2011, a construção foi baixando progressivamente até que em 2020 se construíram apenas 20 mil novos fogos. Qualquer solução passa por baixar os custos de investimento, facilitar a transação e responsabilizar promotores privados e cooperativos. No entanto, para Costa, é mais fácil perseguir os privados e atirar-se o debate para uma dimensão ideológica que não resolve o problema a ninguém.

Todavia, na postura de Costa consegue-se perceber a posição dos seus camaradas regionais. Para eles tudo é admissível, a douta “procura de inspiração” que termina em plágio é aceitável, mas na verdade não atribuem méritos a ninguém. Quando ouvem o que não querem, ou a imprensa não faz o trabalho que consideram de interesse público, toca a disparar contra tudo o que mexe porque no falso dilema em que vivem ou “estão connosco ou então estão vendidos ao PPD”. Pena é que a verdade esbarre na impreparação de quem, na desenfreada luta para ser aceite na opinião pública, mente ao não revelar formalmente as suas próprias ligações ao privado, embatendo, com estrondo, na sua falta de coerência e credibilidade sobre os temas.

Muitos dizem que “ética é estar à altura daquilo que nos acontece”. No entanto, há alguns que dizem querer ser alternativa, mas cuja ética não passa do chinelo ao apelidar os adversários de palhaços, como nos presentearam dois deputados do PS numa das últimas sessões de trabalhos da Assembleia Regional. Perdoai-lhes Senhor, de facto eles não sabem, nem o que dizem, nem como o fazem.