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Ignorância Artificial

É, por isso, cada vez mais importante valorizarmos aquilo que nos diferencia e estimularmos a nossa unicidade

Elon Musk, o empreendedor bilionário dono da Tesla, da Space X e mais recentemente do Twitter referiu em tempos que a Inteligência Artificial tinha potencial para ser mais perigosa que uma arma nuclear. Na realidade, o conhecimento é poder, força motriz da evolução e do desenvolvimento. A capacidade, cada vez mais sofisticada, da tecnologia em gerar aprendizagem pela análise de grandes quantidades de dados usando algoritmos e modelos matemáticos é um tremendo avanço da ciência. Mas também um sério risco.

Foco-me não no risco ilustrado nas tramas de ficção científica da batalha humano versus máquina. Mas de uma outra batalha mais interna, a de entregarmos às máquinas capacidades intelectuais que nos diferenciam, como a criatividade. De nos tornarmos preguiçosos, passivos e perdermos o espírito crítico que alimenta a nossa consciência. De nos tornarmos maquinais, bastando uma conversa com um “robot” para elaborarmos sobre um determinado tema.

Falo a propósito do ChatGPT, um modelo de linguagem de inteligência artificial projetado para simular a conversa humana, que segundo a própria aplicação, se define como “um programa de computador que pode entender e gerar texto em linguagem natural. Eu fui (sic) treinado em uma grande quantidade de dados de texto para ser capaz de responder a perguntas, fornecer informações e até mesmo manter conversas com as pessoas.”

A potencialidade desta ferramenta tem sido recebida com apreensão. Desde professores, que alertam para o risco de este chatbot vir a ser fonte principal de trabalhos escolares, a várias personalidades que alertam para o risco de ameaçar a existência de várias profissões tão diferentes como a de operadores de telemarketing e suporte técnico, jornalistas ou mesmo juristas.

A realidade é que a inteligência artificial serve para aquilo que queremos que ela sirva, não para substituir a nossa consciência. O toque humano é único, não reproduzível por uma máquina, bem como a consciência. Há sim que aliar de forma equilibrada este toque humano, a consciência, à tecnologia.

É, por isso, cada vez mais importante valorizarmos aquilo que nos diferencia e estimularmos a nossa unicidade. De apostarmos no estímulo crítico. Agirmos todos num combate por aquilo que é real e verdade, de sinalizarmos “fake news” que se confundem na amálgama imensa de conteúdo ao qual somos confrontados a toda a hora. É importante que o façamos a bem de gerações mais informadas, com poder crítico, numa altura em que a IA ameaça mudar para sempre a nossa forma de aceder à informação. Admito que este combate à credulidade poderá ser o desafio maior das próximas gerações, para não nos tornarmos ignorantes na exata medida que a tecnologia se torna inteligente. Isto aliado ao imperativo de se trabalhar na regulação e supervisão do desenvolvimento da superinteligência.

Como Michel Houellebecq se referiu à Inteligência Artificial, esta “será tão inteligente quanto sua programação, mas nunca será mais inteligente do que isso. Ela nunca desenvolverá uma consciência, porque a consciência é baseada em emoções, e a IA nunca terá emoções verdadeiras.”