Mundo

Aumenta mobilização e violência nos protestos contra lei das pensões em França

None
Foto EPA

A mobilização contra a revisão da lei das pensões continua a aumentar em França, uma semana após a adoção automática do diploma, mas a nona jornada de contestação foi hoje também marcada por mais violência nas ruas.

Este dia de protestos a nível nacional - o nono desde 19 de janeiro, mas o primeiro desde que o Governo recorreu a uma disposição constitucional para fazer passar o texto sem votação parlamentar, a 16 de março - concentrou 3,5 milhões de pessoas, segundo a central sindical Confederação Geral do Trabalho (CGT), e 1,08 milhões, segundo a polícia.

Paris registou um número recorde de manifestantes e a mobilização mais do que duplicou em todo o país em relação à oitava jornada de contestação, a 15 de março, quando 480.000 pessoas saíram à rua em França, segundo o Ministério do Interior.

Pouco antes do início do cortejo parisiense, o secretário-geral do sindicato reformista Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Laurent Berger, comentou um "aumento da mobilização" e apelou para "a não-violência", após a radicalização da contestação há alguns dias.

Por sua vez, o seu homólogo da CGT, Philippe Martinez, defendeu que o Presidente da República francês, Emmanuel Macron, "atirou lenha para a fogueira" com a sua entrevista televisiva na quarta-feira, na qual se manteve inflexível e reiterou "a necessidade" desta revisão da lei das aposentações.

Apesar da grande impopularidade da medida que aumenta de 62 para 64 anos a idade de aposentação sem penalizações financeiras - de acordo com as sondagens --, Macron insistiu na entrevista que a lei deve ser aplicada "antes do fim do ano", invocando a defesa do "interesse nacional", perante a degradação financeira dos fundos de pensões e o envelhecimento da população.

Martinez recordou que os sindicatos escreveram há algumas semanas ao chefe de Estado para o alertar para "a situação explosiva" do descontentamento no país.

Na capital, onde a CGT anunciou 800.000 manifestantes, a violência rapidamente surgiu na frente do cortejo: encapuzados atiraram pedras da calçada, garrafas e foguetes às forças da ordem -- que responderam lançando granadas de gás lacrimogéneo -, destruíram mobiliário urbano, partiram vitrinas de lojas e atearam fogo aos sacos de lixo acumulados nas ruas, após mais de duas semanas de greve dos serviços de recolha, obrigando à intervenção dos bombeiros.

O comando da polícia, que registou "cerca de um milhar" de elementos radicais na capital, e indicou ter feito, até ao fim da tarde, 14 detenções.

Em Nantes e Rennes, no oeste do país, também ocorreram confrontos entre manifestantes e a polícia, que usou gás lacrimogéneo e canhões de água, ao passo que em Lorient, o comando da polícia foi tomado como alvo.

Tensões mais ou menos fortes foram igualmente observadas noutras cidades, como Toulouse, Bordéus (sudoeste) e Lille (norte).

As centrais sindicais reivindicaram igualmente uma participação recorde nos protestos em Marselha, no sul de França, com 280.000 pessoas, em contraste com as 16.000 contabilizadas pela câmara municipal, um grande desfasamento na contagem, clássico na segunda maior cidade do país.

A polícia tinha indicado prever "entre 600.000 e 800.000 pessoas" nas manifestações em todo o país.

As marchas foram marcadas por uma forte participação dos jovens e algumas dezenas das 3.750 escolas secundárias, faculdades e universidades foram barricadas.

Houve também fortes perturbações nos transportes ferroviários e no metro parisiense, e o abastecimento de combustíveis à região de Paris e dos seus aeroportos pela Normandia (oeste) "está a tornar-se essencial", devido às greves nas refinarias, indicou o Ministério da Transição Energética.

O Governo, chefiado pela primeira-ministra Élisabeth Borne, já "emitiu uma ordem de requisição" dos grevistas da refinaria TotalEnergies da Normandia, que encerrou no fim de semana passado e onde a distribuição de combustíveis está suspensa.

Entretanto, os sindicatos apelaram, ao final do dia de hoje, para a realização de uma 10.ª jornada de manifestações e greves na próxima terça-feira, 28 de março.

"Enquanto o executivo tenta virar a página, este movimento social e sindical perene e responsável confirma a determinação do mundo do trabalho e da juventude em obter a retirada da lei", afirmaram os representantes sindicais.

A confirmar-se a data, a 10.ª jornada de protestos em França coincidirá com a visita de Estado do monarca britânico Carlos III ao país, que decorrerá entre 26 e 29 de março e será a primeira deslocação oficial do monarca ao estrangeiro antes da sua coroação.