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O tsunami do cimento do regime laranja

Defender o prolongamento da Pontinha para proteger o Funchal em caso de tsunami não foi um “lapsus linguae” do presidente da Câmara do Funchal, não foi uma declaração que saiu por acaso, não foi inspirada na série “Star Wars” que, segundo consta, não terá qualquer cena filmada na Pontinha, nem surge sustentada em estudos científicos.

O senhor ex-vice-presidente do Governo deveria ter aproveitado a oportunidade para explicar por que razão o seu Governo nunca se preocupou em investir, atempadamente, nos instrumentos e nas políticas de gestão e de ordenamento do território antes de o destruir e de o entregar a interesses duvidosos. A proteção do ambiente e a mitigação dos riscos nunca foram prioridades dos sucessivos governos PSD. Os interesses económicos sempre se sobrepuseram à segurança da população. Só assim se explica a ausência ou o atraso de décadas de instrumentos de planeamento. Por que razão, hoje, a Madeira ainda não tem um Plano Regional de Defesa da Floresta contra Incêndios ou um Programa da Orla Costeira aprovado?

Usar o fenómeno do tsunami como justificação é mais uma manobra psicológica que pretende apenas alimentar a mitologia do medo entre os madeirenses. Criam, de forma premeditada, a sensação de insegurança e incutem o temor pelos fenómenos naturais para poderem reinar sem contestação pública.

O argumento utilizado faz parte da mesma estratégia de sempre deste regime laranja, ao estilo do “quer queiram, quer não queiram”, ao estilo das ofensas e humilhações públicas a quem ousa utilizar os mecanismos legais ao dispor dos cidadãos para manifestar uma opinião diferente, participando em consultas públicas ou em providências.

A máquina governativa atua como um rolo compressor, fazendo tudo para proteger a vontade dos poderes instalados, continuando a alimentar um modelo de desenvolvimento já esgotado, baseado no “achismo” e em algumas obras de interesse duvidoso, que assegura o enriquecimento de alguns, mas que destrói os rendimentos da classe média e arrasta, sem apelo nem agravo, milhares de madeirenses para a pobreza e a exclusão social.

Perante os problemas estruturantes da nossa sociedade insular, nenhum governante assume as suas responsabilidades. A culpa é sempre dos outros: “a culpa é de Lisboa”, “a culpa é do PS”, “a culpa é da oposição”, “a culpa é dos indicadores que não servem”, “a culpa é das estatísticas que estão erradas”. Mas, como neste regime laranja do “quero, posso e mando” tudo é possível, agora, “a culpa” muda de cenário. Pasme-se, agora, o tsunami é o culpado da necessidade de prolongar a Pontinha! A culpa passa do âmbito da desresponsabilização para a cimentação, isto é, o Governo Regional nem queria gastar milhões de euros no aumento da Pontinha, mas é o tsunami que o exige. Nem Maquiavel imaginaria um estratagema deste quilate.