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Milhares de táxis europeus em manifestação em Bruxelas em prol do sector

Em causa está o processo denominado 'Uber Files'.   Foto Alastair Pike/AFP
Em causa está o processo denominado 'Uber Files'.   Foto Alastair Pike/AFP

Milhares de táxis, entre os quais portugueses, estão desde cerca das 09:00 junto à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, para reclamar medidas da instituição na sequência do caso "Uber Files", disse à Lusa uma fonte do setor.

"Estão aqui milhares de carros franceses, belgas, Croácia, Suíça, Suécia, Itália, Espanha, Malta e alguns portugueses. Isto não é uma manifestação corporativa, é de empresários do táxi e trabalhadores", disse à Lusa o presidente da Federação Portuguesa do Táxi (FTP).

Carlos Ramos disse que esta manifestação de taxistas europeus é a consequência de uma investigação sobre os ficheiros da UBER.

"É preciso apurar as responsabilidades dessa gente. Saber o papel da comissão, o papel da comissária, que na altura era vice-presidente do Parlamento Europeu. O relatório dos jornalistas é muito claro: houve gente que se vendeu, muita gente vendeu a alma ao diabo", sublinhou.

Na opinião de Carlos Ramos é necessário apurar responsabilidades políticas e criminais.

"Queremos saber o que vai fazer a CE para investigar o que se passou. Por outro lado e esta é outra exigência, temos conhecimento que corre nos corredores da CE uma recomendação que tem por objetivo (...) liberalizar para acomodar as plataformas. Querem criar uma lei única que acomode táxis e plataformas e nos não queremos. Queremos continuar a ter estatuto de transporte público de passageiros e viaturas ligeiras e a UBER que trabalhe segundo as recomendações que vierem a sair do parlamento", frisou.

O presidente da FTP destacou igualmente que o setor deve também exigir aos seus países de origem que se criem comissões.

"Já consultámos os partido com assento parlamentar e no dia 20 vamos ser recebidos por Edite Estrela", disse.

Além da FTP estão também presentes elementos da Associação Nacional Táxis Unidos de Portugal (ANTUP) e a Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL).

O objetivo do protesto "é exigir da Comissão Europeia, Parlamento Europeu e parlamentos dos respetivos Estados-membros consequências da promiscuidade revelada - com factos - que permitiram a invasão e instalação desta multinacional na Europa".

Pretende-se conhecer as intenções da Comissão Europeia após a divulgação do caso, exigir inquéritos parlamentares, sanções e compensações, e reivindicar que "seja claramente marcada a diferença entre o serviço de utilidade pública do táxi e as ofertas da iniciativa privada".

A empresa norte-americana Uber concebeu uma estratégia de expansão que recorreu a lóbi político junto de governos, mas também formas ilícitas para ludibriar autoridades, revelou um trabalho do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) divulgado em 10 de julho passado.

A investigação "Uber Files" envolveu 40 meios de comunicação em 29 países (Portugal não está nesta lista de 'media partners', embora o caso português tenha sido abordado), e analisou mais de 124 mil documentos. Concluiu que, entre 2013 e 2017, o então CEO da plataforma de transporte, Travis Kalanick, deu aval a uma estratégia (inclusive em Portugal) que explorava a violência contra motoristas da Uber para promover a imagem da empresa contra os taxistas e os governos que criavam problemas ao seu negócio.

O plano começou a ser desenhado em 2015, quando os estrategos da empresa norte-americana perceberam que poderiam beneficiar com os atos de violência contra os motoristas, ganhando a simpatia da opinião pública, foi referido.

A investigação citou um dos lobistas da empresa, Christian Samoilovich, numa mensagem enviada a um colega, em março desse ano, em que reconhece que a Uber poderia usar a seu favor a violência contra os motoristas, depois de um conselheiro da Comissão Europeia ter escrito na rede social Facebook que um Uber em que viajara tinha sido atacado por taxistas.