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CS Marítimo

Aos sócios e adeptos, só nos resta um caminho: é rumo ao Caldeirão, no próximo domingo

Nota prévia para os detractores da praxe: não sou, não fui, nem ambiciono ser dirigente, comentador ou outra coisa qualquer no universo desportivo maritimista - mas sou, declaração de interesses feita, sócio do Marítimo há 20 anos, assinalados no passado dia 28 de Agosto. Antes disso, fui adepto ferrenho frequentador do estádio com os meus tios - porque com o meu pai era derrota certa e a última vez, distante mas inesquecível, foi pesada, contra o Vitória de Setúbal. Entre isso, fui atleta do futebol - tão mau, tão mau, tão mau, que o Mané e o Filipe não me mandaram para a equipa B; mandaram-me para a C ou D. A consequência foi mudar-me para o basquetebol do CAB Madeira – e durante esse tempo fui rival dentro de campo, mas sócio pagante fora dele. Depois veio a melhor parte – para mim e para muitos maritimistas como eu: ser do Marítimo fora da Madeira. É aí que quase todos aprendemos a ser adeptos a sério de um clube só - que não é só um clube, é uma Região inteira também, porque, como já dizia a música, “ser da Madeira e do Marítimo [é] ser madeirense duas vezes”.

Durante estes anos, as minhas histórias não são diferentes das de quase todos os da minha geração: as idas às competições europeias; as vitórias sobre os grandes; o hat-trick do Lagorio; o chapéu do Rui Óscar; os golos do Alex; o Bruno, o Joel e o Danny. Somos adeptos disso tudo: dos bons, mas também dos maus momentos. Nos últimos anos, o que nos sobrava em memórias faltou-nos em novos alentos: as equipas passaram a jogar menos, a identidade perdeu-se e o distanciamento com a visão de quem nos liderava cresceu. Foram variáveis em sentido inverso: o Marítimo com que sonhávamos e o Marítimo que tínhamos. Faltava qualquer coisa. Faltava, sobretudo, identidade.

Foi por isso que, há um ano, os sócios do Marítimo decidiram mudar - e fizeram-no independentemente do passado de quem se apresentou como alternativa. Os sócios do Marítimo votaram na Esperança de ter um amanhã diferente. Nesse dia, festejou-se uma vitória, porque imaginou-se uma porta aberta para um tempo novo. Chegados aqui e cinco derrotas depois, o entusiasmo de há um ano deu lugar ao desalento - e quem são os responsáveis por isso? Na minha opinião, somos todos.

Em primeiro lugar, os jogadores - porque têm de querer e correr mais, nem que para isso seja preciso mandar colocar de novo uma pista de tartan à volta do relvado. Em segundo lugar, os treinadores - porque ganhar um jogo em 14 e insistir em quem desperdiça penáltis é prova de insucesso quanto baste. Em terceiro lugar, os dirigentes da SAD - porque uma equipa que se apresentou até este momento com tantas debilidades, por mais potencial que tenha pela frente, preocupa e é o resultado das escolhas que foram feitas. Em quarto lugar, os dirigentes do clube - porque, por mais que se insista noutra narrativa, a SAD não trabalha num universo isolado e as dificuldades que encontraram foram também reflexo das condições que provavelmente não lhes deram, nos momentos e nos lugares certos. Em quinto lugar, dos sócios e adeptos - porque levados pela euforia da mudança e com expectativas porventura falsamente demasiado elevadas, deixaram-se adormecer e de cumprir o seu papel: de torcedor máximo durante os jogos; de escrutinador atento durante os intervalos.

Ainda assim, não acredito que os jogadores sejam displicentes como por vezes parece, porque conheço a raça do capitão Edgar. Não acredito que Vasco Seabra seja mau treinador como estes resultados aparentam, porque também reconheço o valor do trabalho que fez há um ano. Não acredito que a SAD fosse desconhecedora como o momento fez parecer, porque sei, por exemplo, que o Luís Olim sabe mais de futebol a dormir do que grande parte de nós todos juntos acordados. Não acredito que os dirigentes do clube sejam desajeitados, porque acredito no seu maritimismo. E também não acredito que os sócios que há um ano escolheram maioritariamente mudar estivessem enganados sobre a necessidade de abrir um tempo novo na vida do clube.

Perante o momento que vivemos, há duas hipóteses: a primeira, desejada por uma minoria que nunca aceitou a derrota democrática nas urnas, correr com tudo e todos - até com os sócios que disseram presente para votar noutros que não nos aparentemente ungidos pelo direito divino a governar o Marítimo - e fazer marcha-atrás; a segunda, encontrarmos soluções que aproveitem o melhor que temos para recolocarmos o nosso futebol no rumo certo e, no futuro, no nível que ambicionamos. Da minha parte, não tenho qualquer dúvida que é na segunda hipótese que devemos trabalhar - e, sendo, atrevo-me a dar um conselho a alguns: falem menos que ajudam mais.

Aos sócios e adeptos, só nos resta um caminho: é rumo ao Caldeirão, no próximo domingo, para que lá fora voltem a saber que na Madeira mandamos nós - sobretudo porque o Marítimo é Nosso e há-de ser. Força, Marítimo!