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Ecos de Guimarães

Decorreu recentemente a 44.ª Conferência Internacional da Associação Europeia de Professores de Piano (EPTA) na Cidade Berço de Portugal. O cenário histórico de Guimarães foi um pano de fundo perfeito para a conferência cujo tema foi “O ensino de piano e a atuação: a renovação depois da pandemia”.

Depois de 16 anos, foi a segunda vez que Portugal hospedou esta conferência, sendo que a Madeira se pode orgulhar de, em 2006, ter sido o palco do 26.º encontro. Foi um enorme prazer estar, mais uma vez, na companhia de cerca de 60 colegas de 15 países europeus e das duas Américas.

A equipa organizadora, liderada pelo conhecido pianista e professor português Luís Pipa, presidente da EPTA Portugal, elaborou um programa complexo e muitas vezes com duas apresentações em simultâneo, tal o interesse demonstrado pelos participantes. Durante os três dias intensos alternavam-se conferências, palestras, palestras-concertos e concertos, cuja temática foi bastante alargada e percorreu variadíssimos tópicos: desde a análise de aspetos de construção de pianos modernos, ansiedade performativa, problemas crónicos de saúde dos pianistas, ensino de piano depois da pandemia, e inteligência corporal na prática pianística, até várias apresentações focadas em mulheres-compositoras, o método Suzuki no séc. XXI, repertórios pouco conhecidos, sobretudo da América do Sul, e concertos com obras selecionadas, desde Cimarosa e Schubert a Stravinsky e Cage.

Tive muita honra e orgulho de apresentar, no meio destas apresentações impressionantes, a pessoa e a obra do compositor madeirense João Victor Costa, numa palestra-recital que demonstrou toda a variedade da sua linguagem pianística, através de uma seleção de obras que originalmente tinham sido gravadas para um CD editado no âmbito das celebrações dos 500 anos do Funchal. Também pude apresentar a edição destas obras em partitura, no âmbito da Antologia da Música na Madeira, publicada pelo Conservatório. Registei com muito prazer o interesse de colegas de vários países, demonstrado pela música do Maestro.

Contrapondo estes momentos de partilha, aprendizagem e enriquecimento, o programa da conferência incluiu concertos de altíssimo nível artístico e grande intensidade emocional. No final do primeiro dia, teve lugar um concerto inesquecível e exclusivo para os conferencistas, ao ar livre, do fadista Camané, em colaboração com o pianista Mário Laginha. No final do segundo, tivemos a oportunidade de assistir ao concerto da Orquestra de Guimarães, dirigida por Vitor Matos, em que o pianista António Rosado foi o exímio intérprete do Concerto nº 2 de Rachmaninov. Já na última noite, a Pousada do imponente Mosteiro de Guimarães foi o lugar duma apresentação de alguns instrumentos típicos populares de Portugal, num concerto pelo trio de Daniel Pereira Cristo, e do jantar gala que reforçou a convivência e amizades travadas.

Esta conferência representou um momento encorajante, nos finais da pandemia (?), em que sobressaiu a vitalidade do ensino da arte pianística, graças à criatividade, adaptabilidade e entusiasmo dos pedagogos, e, consequentemente, da própria pedagogia artística. Um presságio prometedor para todos os que possuem a coragem da partilha, confiança e companheirismo.