Carta dum emigrante

Preparo ansiosamente o dia da viagem, as saudades são mais do que muitas, após dois anos proibido de os visitar, renova-se a minha ansiedade em voltar a vos abraçar. Não sei se preciso fazer teste para poder viajar para a região visto ser um transporte público, se irão me condicionar a visita, mas vou à conta de Deus. Estou com enorme dificuldade em apanhar o avião a situação no aeroporto outrora da Portela, como mudou de nome, de repente pensei que Humberto Delgado seria um novo, mas que nada os governos dos pós 25 de Abril de vez em quando mudam o nome das coisas, fizeram-no logo do 25 de Abril com a então ponte de Salazar! e com a agravante que é um pandemónio. Ouço comentários que o Presidente da República regressa duma viagem ao Brasil, pensei que a confusão no aeroporto seria essa o motiva, mas não, desconheço a razão, estou a ver numa mensagem no Instagram que ele foi se encontrar com o Lula, afinal o presidente atual não é o Bolsonaro? entretanto no meio de tanta balbúrdia eis que não encontro as minhas malas, pois tive de divergir da Easy jet porque estão em greve para chegar ao meu destino remarcar nova viagem na TAP, e eu que pensava que já tinha fechado com tanto subsídio e tanta injecção do governo julgava que a eutanásia seria aplicável a empresas falidas. Chega a hora de regressar à ilha e a minha ansiedade transforma-se em quase como uma angústia, não vejo a hora de abraçar de novo familiares e amigos. Quando da aproximação e depois de várias tentativas anunciam que por condições atmosféricas a inoperância do aeroporto temos que desviar para Canárias. Poça! já perdi mais de um dia das minhas férias com estas interrupções, mas antes isto que uma tentativa falhada. Após duas horas e lá uma nova tentativa e eis que finalmente conseguimos aterrar no aeroporto Cristiano Ronaldo, coitado do rapaz devem de estar a arder as orelhas. Como já ninguém vai receber visitantes, combinado deixar o carro no parque, arrumamos a tralha depois de um dia estafante e chegamos a casa sãos e salvos. Amanhã vamos ao arraial a festa da cerveja na cidade, alguém ressalva, agora não é da cerveja é a da Sé, bolas isto em 2 anos mudou tanto. O meu cunhado não pode ir connosco, está à 4 horas no hospital à espera duma consulta e o meu vizinho que costuma nos acompanhar não vai, também está há mais de 2 anos à espera para ser operado das cataratas quase não enxerga e a mulher à três à espera da operação do bócio. Encontrei um primo da Venezuela, já vive há quase três anos aqui com mais dez pessoas da família fugidos da miséria e da insegurança que por lá paira. Mas afinal! li no Diário que as coisas estavam uma maravilha e que a comitiva que foi lá no dia da região elogia o bom caminho que aquilo leva, será que li mal ou levei algum barrete? Há esqueci-me de dizer que: quando fui à cidade, a Fernão Ornelas está muito bonita e olhei para a ribeira pensei que iriam fazer algum comboio para as zonas altas, visto a forma lisinha que cimentaram aquilo tudo. Definitivamente a nossa terra evoluiu muito, já se vê a obra megalómana dum hospital digno de qualquer grande cidade da Europa, teremos capacidade de importar doentes e porque não fazer com que os médicos e enfermeiros que emigraram, regressem de novo à sua terra, pois vida de emigrante não é fácil, fala-se num túnel da Ajuda a São Gonçalo, não sei se para implementar o metro no Funchal e que o problema das pessoas irem à missa na Igreja do Colégio está sendo estudado na CMF com a construção dum parque subterrâneo no largo do colégio. Pensava que para a próxima visita traria o meu carro elétrico com a família toda, mas rás parto o diabo, continuo a não poder vir á minha terra senão de avião.

A. J. Ferreira