País

Protecção Civil alerta que prevenção de incêndios "ainda não é suficiente"

Duarte da Costa, presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil
Duarte da Costa, presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil

O presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) considerou hoje que se deve manter o investimento no combate aos incêndios rurais, tendo em conta que "a prevenção está a funcionar, mas ainda não é suficiente".

"A prevenção está a funcionar, mas ainda não é suficiente e por isso obriga-nos a ter os meios no terreno para combater", disse o general Duarte da Costa em entrevista à agência Lusa, numa altura que a ANEPC completa 15 anos de existência.

Duarte da Costa, que está no cargo há cerca de um ano e meio, sustentou que a questão dos incêndios rurais "não se vence no combate", mas sim na prevenção.

"Vence-se no ordenamento do território, no cadastro daquilo que é a nossa floresta, nas capacidades de tornar a nossa floresta algo que seja rentável para as próprias populações. Ora a remodelação de um modelo territorial, como o nosso, demora anos. Se calhar demora 20 anos porque temos que fazer toda uma reestruturação daquilo que é o desenho da nossa floresta", disse.

Nesse sentido, sublinhou que "até lá tem que se manter uma robusta estrutura operacional para o combate porque no fim da linha é o combate que vai resolver todas as ineficiências anteriores".

Duarte Costa sustentou que "ainda não se pode baixar o investimento no combate" e, como exemplo, apontou o caso da época de fogos do ano passado, em que ocorreram 8.000 ocorrências e se registou um desempenho de cerca der 95% de sucesso no ataque inicial.

"Não são esses 95% que me preocupam, o que preocupa são os 5% que faltam e 5% de 8.000 são 400 grandes incêndios e três deles ocorreram na região do Algarve. Temos de ter os meios para combater estes grandes incêndios", disse.

Duarte Costa frisou também que no âmbito de uma reunião do Sistema Integrado de Gestão de Fogos Rurais foi questionado se já é possível diminuir o número de meios aéreos.

"A resposta que eu dei é que não sinto confiança suficiente neste momento para diminuir esse número de meios aéreos porque ainda não há as soluções a montante que me permitam ter um território perfeitamente seguro. Quando eu tiver a floresta toda ordenada, com limpeza nas faixas primárias e nas faixas secundárias, quando o ordenamento territorial estiver feito e que toda a gente saiba qual é a sua parcela e o número de ocorrências baixar muito. Aí nós conseguimos transferir meios da componente operacional para a vigilância e prevenção", salientou.

O presidente da Proteção Civil desabafou que só estará "feliz no dia em que ocorrerem zero grandes incêndios e que todos sejam tratados na componente do ataque inicial".

Sobre a próxima época de fogos, Duarte Costa vê 2022 "com a mesma calma e serenidade" que viu 2019, 2020 e 2021, alertando para a necessidade de um planeamento constante.

No entanto, sublinhou que "uma das lições aprendidas" é que "mesmo que se faça sempre tudo bem há uma grande hipótese de as coisas ainda assim correrem mal".

"Agora se não fizermos as coisas bem, se não planearmos e não trabalharmos aí corre mal de certeza e, portanto, exige que trabalhemos todos os dias neste planeamento", disse, recordando os bons resultados dos últimos quatro anos.

O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) para este ano vai ser conhecido ainda este mês, tendo Duarte Costa avançado que será semelhante ao de 2021, depois de ter registado uma estabilização "muito razoável" em 2020 e "um ligeiro acréscimo em 2021".

Na entrevista à Lusa, Duarte Costa realçou que o trabalho "é um processo de melhoria contínua", mas existiram questões que a Proteção Civil teve de "atacar de frente" depois dos incêndios de 2017.

A organização e coordenação das forças no terreno, o apoio à decisão operacional, aumento de meios aéreos e remodelação da rede de comunicações SIRESP estão entre algumas melhorias introduzidas no sistema e apontadas pelo presidente da Proteção Civil.

"Esse era o trabalho que era necessário fazer logo, a partir daí temos vindo a melhorar ano a ano, com maior capacidade de intervenção dos meios nas zonas de maior risco, uma maior perspetiva de trabalhar o risco antes das ocorrências sucederem", disse.