Artigos

Por uma política da consciência

Nas sociedades democráticas, o exercício da política deve ser o reflexo e a materialização do cuidado de que a riqueza existente seja o mais justamente distribuída, ou no mínimo, aqueles que são identificados como os mais necessitados, sejam alvo de cuidada atenção por parte dos órgãos de administração, papel que na sociedade actual, o Estado não pode demitir-se. Nesta tarefa estão necessariamente presentes as dimensões da moral, da ética e da espiritualidade, “trindade” que no modelo de sociedade vigente urge agigantar. Para que o agente político não se afaste da sua tarefa maior e fundamental, que se traduz em empenhar-se no convergir para a garantia de uma existência digna de todos os cidadãos, torna-se necessário que o organismo Estado, dê o exemplo na distinção entre o essencial e o acessório. Tal tarefa, no modelo de sociedade instalada, onde culto do supérfluo reina, a competição é incutida às crianças desde tenra idade e o consumo desnecessário é regra, fomentado o individualismo e consequentemente o afastamento do outro, embora se afigure como missão de colossal vergadura e por isso mesmo com laivos de utopia, urge dar início à sua prática e consumação. Ao defender-se uma política da consciência, caminha-se não só numa direção diferenciadora e alternativa, como se assume o pioneirismo de uma visão séria, autêntica e comprometida com os cidadãos. Na verdade, a defesa e implantação de uma política da consciência pode (re)trazer dimensões humanas hoje amordaçadas, como seja a empatia, a afinidade e sintonia que conduzem à tolerância, à generosidade, à compaixão, ao amor, em síntese, ao reconhecimento no outro. Instalada uma política da consciência, é possível vivenciar uma sociedade onde a sedução para o individualismo enfraquece, no sobrepor-se ao coletivo, não havendo assim cabimento para a plutocracia, nem para o protagonismo do político que desamarra ou oprime, nem do militar que disciplina belicamente, ou do clérigo que a apascenta doutrinariamente. Para a remoção do obscurantismo instalado, que impede que se perceba o labirinto em que o ser humano se colocou, é forçosa a promoção do autoconhecimento, pela desconstrução do mito da separação entre o eu e os outros, instalando uma visão de unidade, pelo desenvolvimento da empatia com todas as formas de vida, com vista a uma ética global. Urge pensar “fora da caixa”, ressuscitando os valores e colocando-os no centro do debate, como catalisadores de uma nova sociedade, onde o ser humano holístico tenha lugar. É hoje percetível para aqueles (poucos) que conseguem simultaneamente ser atores e espectadores da enxadrezada sociedade humana, que a solução dos problemas que afetam a humanidade, só poderão ser eficazmente enfrentados com um ideário diferenciado e dirigido à pessoa e tudo o que a envolve, e não através da submissão à ditadura da economia vigente, onde um número pequeno de pessoas enriquece indecentemente e um número enormíssimo empobrece imoralmente. Na vigência de uma política da consciência, não há lugar a guerras ou sequer disputas de tom exagerado. Há compreensão e consequentemente cooperação, que resulta de uma mudança cognitiva, onde o resultado é o bem comunitário.