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Duas mil pessoas manifestam-se em Madrid contra posição espanhola sobre o Saara

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Cerca de duas mil pessoas manifestaram-se hoje em Madrid para apoiar o Saara Ocidental e reclamar a sua autodeterminação, depois de o Governo espanhol ter revisto a sua posição nos últimos dias a favor de Marrocos.

Na ação organizada pelo Movimento Solidário com o Povo Sarauí, que contou com a presença de vários representantes políticos e do mundo do entretenimento, foram desfraldadas bandeiras da parcialmente reconhecida República Árabe Saaraui Democrática, em frente ao ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol, segundo a agência Efe.

Já de acordo com a agência France Presse (AFP), podiam ler-se cartazes com as inscrições "[Pedro] Sánchez [presidente do Governo espanhol] traidor", "os sarauis decidem, não são moeda de troca" ou "o Sara não se vende".

Abdulah Arabi, delegado da Frente Polisário (movimento autonómico saraui) em Espanha, disse à agência Efe que a decisão "arriscada" do executivo espanhol "não alinha com a postura tradicional de Espanha" nem representa "o sentir amplamente solidário da sociedade espanhola com o povo saraui", ao mesmo tempo que "contradiz o direito internacional".

"Estamos perante uma mudança radical na postura do Governo de Espanha, que se situa ao lado da pretensão expansionista de Marrocos no Saara Ocidental", asinalou Arabi, que considera que a resolução do conflito passa pela "via pacífica".

A porta-voz do Podemos, Isa Serra, censurou a "mudança histórica" relativamente à posição espanhola no conflito entre Marrocos e o Saara Ocidental, considerando-a "inadmissível" e "injustificável".

"É muito grave colocar-se do lado do ocupante, de quem viola os direitos humanos contra as sentenças do Tribunal da União Europeia, contra as resoluções das Nações Unidas e defendendo a lei do mais forte", lamentou a porta-voz do partido de esquerda.

Madrid anunciou publicamente há oito dias que apoia o plano de autonomia marroquino para o Saara Ocidental, um vasto território desértico rico em fosfatos e em águas ricas em peixe, cuja posse opõe Rabat à Frente Polisário, apoiada pela Argélia, que apoia a autodeterminação do território, depois da saída dos espanhóis em 1975.

Marrocos controla cerca de 80% do território em que a Frente Polisário reclama um referendo de autodeterminação, previsto na assinatura de um cessar-fogo em 1991, mas nunca concretizado.