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Bongos de montanha regressam ao habitat natural no Quénia

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Um primeiro grupo de bongos de montanha foi libertado esta semana num santuário pioneiro no centro do Quénia, com o objetivo de salvar esta espécie de antílope da floresta da extinção no seu habitat natural.

Dois jovens machos juntaram-se a dois outros bongos, libertados na passada quarta-feira, no sopé florestal do Monte Quénia, onde a espécie desapareceu há quase 30 anos.

O Quénia é o único país onde estes majestosos antílopes com os seus chifres retorcidos e casacos castanhos estriados com finas riscas brancas ainda vivem no seu habitat natural.

Em tempos existiram em grande número. Atualmente, estima-se que menos de uma centena vagueie pelas florestas equatoriais do Quénia. A espécie é classificada como criticamente ameaçada.

Em resposta à queda dramática da população de bongos selvagens, os conservacionistas no Quénia criaram alguns com o objetivo de os reintroduzir no habitat natural.

Esta estratégia, conhecida como de "reconstrução", é muito exigente, uma vez que os bongos devem ser completamente privados da presença humana. O trabalho meticuloso de preparação dos antílopes para a vida na natureza levou quase 20 anos.

"Finalmente, estes bongos foram recondicionados como selvagens. (...) Que sucesso!", afirmou com satisfação o ministro para o Turismo e Vida Selvagem queniano, Najib Balala, na inauguração do Santuário de Mawingu Mountain Bongo, perto da cidade de Nanyuki.

Tão bonitos quanto esquivos, os bongos de montanha foram troféus de caça muito procurados durante os tempos coloniais.

Na segunda metade do século XX, a diminuição da sua área de habitat, novas doenças transmitidas pelo gado doméstico e a caça furtiva de carne de animais selvagens dizimaram a população de bongos.

O último avistamento de um bongo selvagem nos planaltos em redor do Monte Quénia - uma das áreas históricas de pastagem desta espécie, juntamente com as florestas na Cordilheira Aberdare, florestas Mau e Monte Eburu - foi uma carcaça encontrada em 1994.

Uma década mais tarde, quase que confirmada a extinção, bongos cativos foram trazidos de jardins zoológicos nos Estados Unidos para serem integrados num programa de 'reconstrução' gerido por uma reserva privada, a Mount Kenya Wildlife Conservancy.

Estes primeiros espécimes eram praticamente domesticados, totalmente estranhos ao clima queniano e inteiramente dependentes dos humanos para a alimentação, segundo Isaac Lekolool, chefe veterinário do Kenya Wildlife Service (KWS), a agência queniana para a vida selvagem.

Entretanto, duas gerações depois, a autossuficiência e os instintos naturais regressaram. Os animais cuidadosamente selecionados para "reconstrução" eram jovens e saudáveis, capazes de se alimentarem a si próprios e muito atentos aos humanos.

"Foi uma aventura de 18 anos. Hoje, a situação tornou-se uma realidade", afirmou Isaac Lekolool.

Um quinto bongo deverá ser libertado na próxima quarta-feira, segundo as autoridades, elevando a população que passa a viver no santuário de mais de 300 hectares a três machos e duas fêmeas.

A cada seis meses, serão libertados mais cinco bongos por forma a diversificar as oportunidades de acasalamento e a aumentar gradualmente a população.

A ideia é que as futuras crias nascidas e criadas na natureza venham posteriormente a ser transferidas para outros locais no Quénia, onde possam repovoar outras áreas de habitat do bongo.

O KWS espera atingir uma população de, pelo menos, 750 bongos no país até 2050.

Najib Balala recordou que o bongo é um dos mamíferos em perigo mais negligenciados em África, embora sejam muito menos numerosos do que outros animais protegidos, tais como elefantes, rinocerontes e leões.

"Ignorámo-los durante muito tempo", afirmou o ministro. "Agora, estamos a trazê-los de volta".