A Guerra Mundo

Kiev denuncia ataque a hospital pediátrico e Moscovo aponta avanços negociais

Foto: EPA/MIKHAIL PALINCHAK
Foto: EPA/MIKHAIL PALINCHAK

A Ucrânia denunciou ataques russos contra um hospital pediátrico em Mariupol no 14º dia da invasão russa, em que se intensificaram bombardeamentos russos, com Moscovo a admitir progressos nas negociações com Kiev.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, denunciou hoje um ataque aéreo russo contra um hospital pediátrico e maternidade em Mariupol e apelou novamente ao encerramento do espaço aéreo ucraniano. Também os Estados Unidos, Reino Unido e países europeus condenaram o ataque.

"Ataque direto das tropas russas a maternidade. Há pessoas, crianças, debaixo dos escombros. A atrocidade! Quanto tempo mais o mundo será cúmplice ignorando este terror? Fechem o espaço aéreo já", escreveu Zelensky no Twitter.

Apesar de o Governo ucraniano ter denunciado uma intensificação das ações de agressão russas, os canais diplomáticos permanecem abertos e a Rússia admitiu "alguns progressos" nas negociações com a Ucrânia, alegando não pretender ocupar o país vizinho ou derrubar o Governo de Kiev.

"Em paralelo com a 'operação militar especial' [designação usada pelas autoridades russas para qualificar a invasão da Ucrânia], estão também em curso negociações com o lado ucraniano para pôr fim ao derramamento de sangue sem sentido e à resistência das forças armadas ucranianas o mais depressa possível", disse Maria Zakharova, citada pela agência francesa AFP.

Nesse sentido, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, expressou o desejo de que a reunião entre a Rússia e a Ucrânia na Turquia, prevista para quinta-feira, permita alcançar um cessar-fogo e criticou "a caça às bruxas" contra todos os russos na Europa.

"Desejo que o encontro entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia [Dmytro Kuleba] e da Rússia [Serguei Lavrov], que se encontram pela primeira vez desde o início da invasão russa amanhã [quinta-feira] no Fórum Diplomático de Antalya, abra a porta a um cessar-fogo duradouro", disse o chefe de Estado turco.

Um dos obstáculos nas negociações pode ser a ajuda militar a Kiev, bem como as sanções contra Moscovo por parte dos países ocidentais, que o Kremlin denuncia como agressões.

A Presidência russa acusou os Estados Unidos de terem declarado uma "guerra económica" contra Moscovo, após Washington ter anunciado um embargo às importações de petróleo e gás da Rússia.

Outra matéria de discórdia nas próximas negociações será também o esclarecimento sobre as responsabilidades no impedimento à criação de corredores de ajuda humanitária no teatro de guerra, bem como o uso de soldados não profissionais nos campos de batalha.

Hoje, o Presidente russo, Vladimir Putin, culpou os "nacionalistas" ucranianos por dificultarem a retirada de civis de cidades ucranianas sitiadas, negando as denúncias de Kiev de estar a bombardear os espaços de evacuação de várias cidades ucranianas.

Ao mesmo tempo, a Rússia reconheceu hoje pela primeira vez a presença de soldados conscritos na Ucrânia e anunciou que vários deles foram feitos prisioneiros, alegando que até agora apenas soldados profissionais estiveram a lutar.

"Foram confirmados diversos casos [comprovando] a presença de conscritos nas unidades das Forças Armadas Russas que participam da 'operação militar especial' no território da Ucrânia. Quase todos esses militares já foram retirados para o território russo", disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov.

Entretanto, o fornecimento de energia elétrica para a central nuclear de Chernobyl e para os respetivos equipamentos de segurança foi "completamente" cortado devido às ações militares russas, anunciou o distribuidor de energia ucraniano, a Ukrenergo.

A central de Chernobyl, que foi cenário do maior acidente nuclear da história, em 1986, "foi completamente desligada da rede elétrica devido às ações militares do ocupante russo. O local não tem mais fornecimento de energia", escreveu a empresa ucraniana na rede social Facebook.

Para proteger o espaço aéreo ucraniano, o Presidente Volodymyr Zelensky pediu ao Ocidente para que "decida o mais rápido possível" sobre o envio dos aviões MiG-29, proposto pela Polónia para ajudar o país a combater a invasão russa.

"Decidam o mais rápido possível, enviem-nos os aviões", pediu Zelensky, numa mensagem difundida na rede social Telegram.

Contudo, o chanceler alemão, Olaf Scholz, excluiu a possibilidade de fornecer esses aviões de combate à Ucrânia, quando se debate uma possível cedência de caças dos Estados Unidos à Polónia, em troca de este país ceder aviões seus a Kiev.

"Temos de analisar com precisão o que fazemos em particular e entre as possibilidades não está, de forma alguma, o fornecimento de aviões de combate", disse Scholz numa conferência de imprensa em Berlim, após um encontro com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau.

Num outro tabuleiro de ajuda militar, o Governo britânico anunciou que está a estudar "fornecer mísseis antiaéreos de alta velocidade Starstreak" a pedido da Ucrânia, salientando que é uma arma de defesa.

Pelo lado das sanções económicas, a União Europeia (UE) concordou em reforçar as sanções decretadas no âmbito da invasão da Ucrânia pela Rússia, visando nomeadamente oligarcas russos e três bancos da Bielorrússia, o que será formalizado rapidamente por procedimento escrito.

Segundo uma mensagem divulgada pela presidência rotativa francesa do Conselho da União na rede social Twitter, os embaixadores dos 27 junto da UE (Coreper II) aprovaram hoje "novas sanções a dirigentes e oligarcas russos e membros das suas famílias implicados na agressão russa contra a Ucrânia".

Também a China vai enviar ajuda humanitária para a Ucrânia, incluindo alimentos e bens de primeira necessidade, no valor de cinco milhões de yuans (721.000 euros), enquanto se continua a opor às sanções impostas à Rússia.

A cidade portuária ucraniana de Mariupol, sitiada pelas tropas russas, tem víveres para três dias até que os seus habitantes comecem a passar fome, disse hoje um deputado ucraniano.

Dmitro Gurin, um parlamentar cujos pais continuam em Mariupol, descreveu em declarações à estação pública britânica BBC uma situação humanitária muito precária na cidade que as forças russas querem controlar para fechar o acesso marítimo da Ucrânia ao exterior.

Até ao dia de hoje, pelas contas da ONU, a guerra na Ucrânia provocou a morte de pelo menos 516 civis, incluindo 41 crianças, mas "os números reais são consideravelmente mais elevados", anunciou hoje a ONU.

Além dos mortos, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) registou 908 feridos, dos quais 76 são crianças.

Mais de 140.000 pessoas fugiram da Ucrânia em 24 horas, elevando o número de refugiados para mais de 2,1 milhões desde 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu o país, anunciou hoje a ONU.

Com a chegada de mais 143.959 pessoas aos países vizinhos da Ucrânia, o total passou para 2.155.271 refugiados, segundo os dados referentes a terça-feira.