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Jornalista russa obrigada ao exílio depois de ameaças de dirigentes chechenos

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Uma jornalista russa da publicação independente Novaia Gazeta, especialista em questões da Chechénia, abandonou a Rússia na sequência de ameaças de altos responsáveis desta república russa do Cáucaso.

"Dadas as inúmeras ameaças pessoais registadas nos últimos dias contra a jornalista Elena Milachina por altos funcionários da Chechénia, a equipa editorial decidiu mandá-la para fora da Rússia", informou hoje o Novaia Gazeta.

O Novaia Gazeta é uma das raras publicações independentes da Rússia, tendo o seu chefe de redação, Dmitri Mouratov, sido distinguido com o Prémio Nobel da Paz relativo a 2020.

O jornal dedica-se, entre outros assuntos, ao acompanhamento das violações dos direitos humanos na Chechénia e muitos dos seus jornalistas têm sido alvo de perseguição ou assassínio, como a jornalista Anna Politovskaia (assassinada em outubro de 2006), devido ao trabalho que desenvolvem.

O trabalho de Elena Milachina suscitou reações violentas por parte dos líderes chechenos depois da divulgação de execuções extrajudiciais que ocorrem na república russa do Cáucaso.

Em janeiro, Raman Kadyrov, o autoritário dirigente checheno, qualificou a jornalista como "terrorista", em mensagens difundidas através do sistema de mensagens Telegram.

O jornal Novaia Gazeta apresentou uma queixa contra Kadyrov "por incitação ao ódio".

O caso da jornalista junta-se ao de Saidi Yanoulbayev, um ex-juiz federal russo de origem chechena que se tornou opositor de Kadyrov, e cuja mulher Zarema Moussaïeva foi presa em janeiro no norte da Rússia pela polícia.

A prisão da mulher do ex-juiz está a provocar receios na Rússia de que as forças de Ramzan Kadyrov possam operar fora da Chechénia.

O Kremlin negou na quinta-feira que tenha perdido o controle sobre as autoridades da Chechénia, um território onde duas guerras sangrentas opuseram as forças russas a separatistas e depois contra grupos islâmicos, nas décadas de 1990 e 2000.

Vladimir Putin recebeu Kadyrov na quinta-feira no Kremlin para discutir "questões urgentes".

"O presidente (Putin) sempre nos apoiou", disse Kadyrov depois da reunião sem especificar os temos do encontro.

As autoridades chechenas são acusadas de torturar e silenciar qualquer voz crítica e de perseguição contra homossexuais.