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Von der Leyen admite sanção à Rússia com Nord Stream 2 e quer reservas de gás na UE

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Foto EPA

A presidente da Comissão Europeia não descarta recorrer ao controverso gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha através do Báltico, para sancionar Moscovo, trabalhando ainda com os Estados-membros em reservas europeias comuns de gás.

Numa entrevista ao jornal francês Les Echos, hoje publicada, Ursula von der Leyen afirmou, quando questionada sobre aquela possibilidade, que tal "dependerá da atitude da Rússia", admitindo assim utilizar o Nord Stream 2 como parte do mecanismo de sanções, no caso de Moscovo decidir intervir militarmente na Ucrânia novamente, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia, em 2014.

Numa altura de forte tensão geopolítica e de crise energética, a líder do executivo comunitário falou no "comportamento estranho" da empresa de gás estatal russa Gazprom nos últimos meses, apontando que, apesar de a companhia cumprir os contratos, faz "o mínimo" possível.

Isto porque, enquanto outros operadores aumentaram as entregas de gás em resposta ao aumento da procura e ao aumento exponencial dos preços, a Gazprom não o está a fazer, referiu Ursula von der Leyen.

"A empresa, que pertence ao Estado russo, está a semear dúvidas sobre a sua fiabilidade" e isto numa altura em que "a Rússia está a exercer pressão militar sobre a Ucrânia e a utilizar gás para nos pressionar", assinalou a responsável, falando numa situação "muito grave" junto à fronteira ucraniana.

E vincou: "É por isso que o Nord Stream 2 não pode ser excluído da lista de sanções, isto é muito claro".

Garantido fazer tudo "para encontrar uma solução diplomática", Ursula von der Leyen reconheceu, porém, que a UE tem de se "preparar para um possível fracasso", pelo que "qualquer nova escalada militar por parte da Rússia terá consequências maciças".

Em causa estão possíveis sanções como o fim do financiamento estrangeiro à Rússia e o controlo das exportações de bens essenciais, incluindo componentes de alta tecnologia para inteligência artificial, armamento ou para atividades espaciais.

Cerca de 37% do comércio externo russo é feito com a UE, enquanto para o conjunto dos Estados-membros a Rússia representa apenas 4,8%.

Esta dependência russa é ainda maior em termos de investimento estrangeiro, com 75% das verbas provenientes da UE, sendo que o fluxo inverso representa apenas 1,9%.

Porém, o principal problema de um mecanismo de sanções para a UE seria a sua dependência do gás russo (que equivale a cerca de 40% do consumo).

Para resolver este problema, Ursula von der Leyen disse ao jornal francês estar a trabalhar com os Estados-membros da UE para "construir reservas estratégicas comuns de gás" e para recorrer a "aquisições comuns de gás", dadas as perturbações dos últimos meses nos fornecimentos russos e as tensões políticas com Moscovo.

Além disso, a UE está a trabalhar com os Estados Unidos para uma "parceria estratégica energética", de forma a diversificar as fontes de energia (como o gás natural liquefeito), razão pela qual se realiza, na próxima segunda-feira, em Washington, uma cimeira sobre o assunto.

Bruxelas está ainda em conversações com outros países produtores de gás, como a Noruega, Qatar, Azerbaijão e Egito, adiantou Ursula von der Leyen.

A Rússia (com 41,1%) era em 2019 o principal fornecedor de gás à UE, seguida da Noruega (16,2%), da Argélia (7,6%) e do Qatar (5,2%), segundo os mais recentes dados oficiais, sendo também o principal exportador de combustível sólido para o bloco (46,7%).