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Imigração e comércio entre poucas mudanças desde 'Brexit' há dois anos

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Dois anos depois da saída formal do Reino Unido da União Europeia, pouco mudou no país para além das regras para imigração e comércio, constata um estudo do grupo académico UK in a Changing Europe publicado esta segunda-feira. 

"Em geral, não houve um 'big bang' de divergência imediata e relevante das regras da UE. A imigração, é claro, é a grande exceção. A liberdade de circulação terminou", refere o estudo "Doing things differently - Policy After Brexit".

O novo sistema de "imigração por pontos" limita a entrada de imigrantes de acordo com as profissões, salário e fatores como o conhecimento da língua inglesa, colocando os europeus ao mesmo nível que os restantes trabalhadores estrangeiros. 

Os primeiros sinais indicam que o novo sistema "não compensará o custo económico de acabar com a liberdade de circulação", pois resultou na escassez de mão de obra em alguns setores, como a restauração, transportes e armazéns, até agora dependente de funcionários europeus. 

Porém, acrescenta o estudo, "parece ter reduzido a importância da imigração" na opinião pública, um dos principais motivos apontados para o resultado do referendo do 'Brexit' em 2016, quando 52% dos eleitores votaram a favor da saída da UE. 

Em 31 de janeiro de 2020, o Reino Unido deixou de ser um Estado-membro da União Europeia, entrando em vigor o Acordo de Saída e iniciando-se um período transitório, que terminou em 31 de dezembro de 2020.

O Reino Unido deixou de pertencer ao Mercado Único e à União Aduaneira em 01 de janeiro de 2021, terminando assim a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capital. 

Outra das principais mudanças pós-Brexit foi no comércio, resultado da saída do Reino Unido do mercado único europeu, mesmo com o Acordo de Comércio e de Cooperação (ACC) entre UE e Reino Unido, que garantiu trocas sem tarifas nem quotas. 

O Acordo, vinca o estudo, "criou uma nova burocracia para as empresas e estima-se que tenha reduzido as exportações do Reino Unido para a UE em 14% e as importações em 24%", valores para o período entre janeiro e julho de 2021.

As principais quedas nas exportações concentram-se em produtos animais e vegetais, roupas e alimentos, onde são maiores os novos atritos, como controlos aduaneiros, normas sanitárias e documentação adicional. 

Noutras áreas económicas, a divergência tem sido limitada, como nos serviços financeiros, no qual as empresas dependem das "decisões de equivalência" de Bruxelas para manter o acesso ao mercado único. 

"A prometida 'fogueira de burocracia dos contratos públicos' e a política para 'Comprar Britânico' foram, no entanto, discretamente abandonadas devido ao risco de violar acordos internacionais", salienta o estudo, realizado por cerca de 20 académicos de universidades como Oxford, Nottingham, Belfast ou Sheffield. 

O Governo produziu também poucos "dividendos do Brexit" em termos de política fiscal, usando a flexibilidade para reduzir o IVA sobre produtos sanitários femininos e simplificar os impostos sobre as bebidas alcoólicas, mas não para reduzir o custo da energia, como Boris Johnson defendeu em 2016.

Segundo os académicos autores do estudo, a divergência regulatória tem potencialidades, mas para ter sucesso implica definir estratégias a pensar no futuro mais distante. 

"Permanece a questão de saber se os governos -- agora e no futuro -- têm os meios para apostar nesse pensamento de longo prazo", vincam.