Crónicas

LIDL e Chinesices

1. Disco: “Bob Marley & The Chineke! Orchestra”, gravado nos Abbey Road Studios e editado pela Island Records. Saiu em Março deste ano. Muito, muito bom.

2. Livro: “Senso Comum e Outros Panfletos”, de Thomas Payne, foi um dos livros que esteve na origem da Revolução Americana. É um livro pequeno que se lê de uma assentada. Esta edição da Book Builders tem uma imperdível introdução de Bertrand Russel.

3. A rede LIDL é uma marca por todos reconhecida, mesmo por aqueles que nunca a usaram. São alemães. É só a maior rede de retalho da Europa e o sexto maior grupo comercial do mundo. Chegaram a Portugal em 1995 e têm hoje números significativos: 4 centros logísticos, 8200 trabalhadores, 269 supermercados e exporta 228 artigos portugueses. Investem, criam riqueza, são factor exponencial de concorrência, beneficiando o consumidor. Daqui a 8 anos atinge uma idade que a esmagadora maioria de nós nunca atingirá: 100 anos.

Quero com esta introdução dizer que o LIDL não brinca em serviço. Estudam mercados e o modo como se comportam (público-alvo e tamanho, disponibilidade financeira, preços); concorrência, ganhos desta e preços praticados, pontos fracos e fortes; elementos diferenciadores de produtos e serviços; localizações; custo/benefício; manutenção; necessidades funcionais; tecto de investimento; análise e interligação dos dados recolhidos; etc.

O Grupo Lidl fechou o seu exercício de 2021 com um volume de negócios de 100.800 milhões de euros, o que representa 50 vezes o Orçamento Regional da Madeira. A operação portuguesa do LIDL representa mais de 1% do PIB nacional. O seu resultado por ano em Portugal é, também, ele superior ao nosso Orçamento. Têm um crescimento médio nos últimos anos de mais de 6%.

Como que vai acima, é fácil concluir que o LIDL “não brinca em serviço”. Mas é o que nos querem fazer crer.

Querem fazer-nos crer, que este Grupo caiu de pára-quedas na Madeira. Que gastou cerca de 5 milhões de euros em Agosto, comprando uma posição com alguma relevância na estrutura da cidade, sem ter garantias dadas por alguém de que aí poderia instalar um supermercado.

Sabemos todos o que a casa gasta. Alguém, na Câmara ou no Governo, deu garantias ao LIDL para que este tivesse avançado com o negócio. Não falamos de amadores. Falamos de estruturas empresariais altamente profissionalizadas. Estamos mesmo a ver um encontro entre as partes em que “alguém” disse que o quarteirão do Blandy, na Cruz Vermelha, não representava qualquer problema para que a empresa aí se instalasse. A empresa foi enganada. E isso é inaceitável.

Alegou a CMF a impossibilidade da instalação de um supermercado da marca no local em causa, escudando-se no PDM e no factor trânsito. Ora, muito bem, como cidadão gostaria de saber quais são os constrangimentos em relação às duas coisas. Como cidadão tenho o direito de ser informado, com dados concretos, e não com coisas deitadas ao vento para ver se pegam.

A cadeia LIDL deixou bem claro que esses ditos constrangimentos eram facilmente ultrapassáveis. Creio que sabem o que dizem, pois não os vejo a dizer coisas por dizer.

Esta história está muito mal contada. Exige-se a verdade.

4. Uma informação adicional que pode, também ela, ser uma carta neste joguinho: sabem que o Grupo LIDL tem os seus próprios barcos, com os quais transporta carga? Os choques de distribuição dos últimos anos fizeram com que assumissem o controlo da cadeia de abastecimento. Dependendo do volume do negócio na região, não seria de admirar que, num determinado momento, começássemos a ver cargueiros de marca própria a fazer transporte para a Madeira. Se espaço houvesse, poderiam mesmo alargar o transporte a outros interessados.

Interessante, não é?

5. E o sabermos que outro grupo empresarial regional estava também interessado no espaço da Cruz Vermelha para aí instalar um hotel de cidade?

Interessante, não é?

6. Na última sessão da Assembleia Municipal do Funchal, o vereador do pelouro deixou claro que a “CMF promete intervenção nas esplanadas e no ruído… patati… patatá… rebeu-beu, pardais ao ninho… blá-blá-blá… e coisa…”

7. Chegámos aquele momento em que estamos a menos de um ano das Eleições Regionais. Os socialistas do PSD e a “esquerdinha light” do CDS acabam de lançar a OPERAÇÃO ENGODO 2013. Duvidem e desconfiem de tudo. Muito.

8. As esquadras informais chinesas estão espalhadas pelo mundo todo. Quando mão amiga me fez chegar ao relatório da Safeguard Defenders, li-o com algum interesse, mas desprendidamente. A China, e o que lhe diz respeito, é assunto que me interessa bastante. Cheguei a uma tabela onde se indicavam os países onde essas esquadras estavam instaladas. Não me espantou constatar o nome de Portugal no rol. O que me espantou deveras foi ver, na coluna respectiva, o nome da Madeira. Ainda mais arregalado fiquei quando cheguei a outra tabela, essa com origem nas autoridades chinesas, onde se revelava uma morada na Ribeira Brava.

Alertei quem de direito, e que melhor poderia pegar no assunto, e segui a minha vida, sabedor de que a sua investigação e divulgação estaria em boas mãos.

Assim foi, e ver a cara de António Costa quando confrontado com o tema, por João Cotrim de Figueiredo, na Assembleia da República, valeu o trabalho. Ver o Presidente do Governo dizer que não sabia de nada — porque será que isso não me admirou — valeu ainda mais.

Estas “esquadras informais” pretendem ser ferramentas de policiamento global feito pela polícia chinesa, que alega combater fraudes globais de telecomunicações e fraudes “on-line”. O problema é que, em vez disso, persegue dissidentes políticos e funcionários corruptos foragidos, usando métodos ilegais que burlam os mecanismos oficiais de cooperação internacional, as leis internacionais e a legislação dos diferentes países.

O relatório da ONG revela o uso de chantagem, como o privar os filhos dos suspeitos do direito à educação na China e outras acções contra familiares numa campanha de “culpa por associação”.

O regime comunista chinês alega já ter conseguido fazer regressar ao país 230.000 chineses.

E agora? Com toda a impunidade, continuaremos a deixar isto acontecer?

9. O recente ataque com mísseis do Irão ao Curdistão iraquiano, é uma clara violação do direito internacional. Este acto não provocado de agressão, contra uma nação soberana, deve ser uma séria preocupação para a comunidade internacional. O governo iraniano deve ser responsabilizado pelas suas acções.

O povo do Curdistão tem o direito de viver em paz e segurança, sem medo de ataques por parte dos seus vizinhos. A comunidade internacional tem de condenar esta agressão injustificada.

Os curdos não podem ser o “bode expiatório” do que se passa no Irão.

10. Não gosto de extremismos. Venham da esquerda, venham da direita. Respeito a vontade do povo, de qualquer povo, manifestada por intermédio do voto livre e democrático. Não respeito os referendos plebiscitários, condicionados pela força das armas, como os feitos nos territórios ocupados por Putin na Ucrânia. Respeito a decisão do povo italiano nas eleições do passado domingo. Como respeitarei aquilo que os brasileiros decidiram ontem.

Confio mais em Meloni do que em Berlusconi e Salvini. Desconfio que este namoro entre o putinista Salvini, o “boneco de madeira” Berlusconi e a jovem Meloni, não vai durar nem um ano.

Com esta venham daí os insultos de que sou fascista.

11. “E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava montado nele chamava-se Morte; e o hades seguia com ele; e foi-lhe dada autoridade sobre a quarta parte da terra, para matar com a espada, e com a fome, e com a peste, e com as feras da terra.” - Apocalipse 6:8