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A Escola não é só tablets e manuais digitais

As escolas da Região abriram o ano letivo num clima de normalidade, é verdade, os professores e os alunos comprovam, mas também é verdade que alguns dos grandes problemas do ensino continuam por resolver.

A conjuntura da Covid-19, apesar da vacinação e das testagens, continua a exigir um conjunto de procedimentos rigorosos ao nível da proteção e da saúde de todos e deveria implicar, também, a criação de um Plano Regional de Recuperação das Aprendizagens e de um Programa de Saúde Mental Escolar, recusados pelo Governo Regional, com a intervenção de mediadores sociais e outros recursos, adaptados a cada realidade, de modo que os alunos com maiores dificuldades e outras fragilidades, ao nível económico e social, não ficassem para trás.

O Governo Regional está deslumbrado com o fenómeno dos tablets, dos manuais digitais e das salas do futuro, esquecendo, ou tentando fazer esquecer, as outras questões igualmente estruturantes e fundamentais para a construção não apenas de uma sala do futuro em cada estabelecimento de ensino, mas de uma Escola do Futuro, com um novo modelo de Escola inclusiva, bem equipada em todos os setores, ao dispor de todos e de cada um dos alunos.

A Escola não é só tablets, manuais digitais e salas do futuro. Não desvalorizamos estas ferramentas tecnológicas nem a estratégia inovadora que promove pedagogias mais interativas e práticas de sala de aula mais motivadoras, antes pelo contrário, este é o caminho, sem qualquer dúvida, concordamos, mas sempre articulado com tantas outras possibilidades pedagógicas e formas de ser Escola, seja ela formal ou informal, dentro e fora dos muros da Escola, e sempre ao serviço das aprendizagens e do desenvolvimento sustentável da nossa Região.

Existe ainda um conjunto significativo de situações por solucionar no Ensino da Região que continua à espera de vontade política. Por exemplo, as escolas têm alguma Autonomia, em vários níveis da sua organização, planificação e gestão, porém, não conseguem exercer esse poder de forma abrangente nem têm a possibilidade de investir em projetos diferenciadores ou trabalhar nas melhores respostas para as suas carências, de acordo com o seu contexto, porque a tutela não lhes concede os meios, os recursos nem o financiamento necessários.

Em relação aos professores, as questões adiadas são imensas: o peso dos procedimentos burocráticos; o modelo de avaliação docente é desadequado e promotor de injustiças; o roubo do tempo de serviço aos professores que acedem aos 5.º e 7.º escalões, com a imposição das quotas e dos percentis; medidas de combate ao desgaste e envelhecimento da classe docente e uma estratégia para a falta de professores em algumas disciplinas.

A vertente das qualificações, das habilitações e das competências dos madeirenses constitui mais uma grande preocupação, destacada pelo tecido empresarial da Região e patente nos dados do Instituto do Emprego. No entanto, para o Governo está tudo bem e, em vez de rentabilizar as verbas do PRR em outras áreas do ensino, agarra-se, exclusivamente, à digitalização da educação como se tivesse descoberto o remédio milagroso para todos os males.

Deste modo, insiste na mesma receita de educação e de formação profissional que, ao longo dos anos, além de ter criado milhares de desempregados sem qualificações nem competências para responderem às ofertas de emprego existentes, deixou uma herança de 53,2% da população ativa apenas com o ensino básico, a juntar aos 30% dos jovens madeirenses que não concluem o ensino secundário e aos 10.800 jovens, com idades entre os 15 e os 34 anos, que não se encontram empregados nem frequentam qualquer sistema de educação, formação ou estágio. As salas do futuro não vão resolver este falhanço, clamoroso, das políticas educativas dos sucessivos governos PSD, urge uma outra visão estratégica para esta área da formação profissional.