Artigos

Uma questão de respeito

Nos tempos que correm, mais altos valores se levantam e cá vai de ignorar os tais preceitos

Mais do que os silêncios, tenho dificuldade em entender a forma amorfa e submissa com que aceitamos aquilo que nos querem impor ou, ainda mais, algumas frases ditas de peito cheio, impante, sem respeito nem pudor. Durante algum tempo, levámos com decisões sobre o que, em tempo de intervenção externa, era ou não constitucional. Para mim, que tenho como inconstitucional a actual Constituição da República com a sua defesa do caminho rumo ao socialismo, irritava-me ser tratado como cidadão de segunda em face de interesses outros, esses sim devidamente assegurados pela dita Constituição. Nos tempos que correm, mais altos valores se levantam e cá vai de ignorar os tais preceitos, subjugados pela ditadura da incongruência, sem que os mesmos de antes sequer rasguem um bocadinho das suas togas. Os exemplos são vários e não gastarei caracteres a referi-los mas temos aceitado, envoltos no discurso do bem maior que é a saúde, limitações às nossas liberdades e decisões totalmente absurdas, sem qualquer respaldo científico, com consequências que do ponto de vista económico têm sido devastadoras. O que de semelhante têm estes dois momentos recentes da nossa história é o tal sentimento de que uns são tratados como filhos e outros como enteados. É este o ponto deste escrito mensal… No meio da dor e dificuldade que tem sido sobreviver neste tempo Covid, levar com afirmações que reforçam este sentimento de que as regras não se aplicam a todos não pode calar; temos de poder e de saber dizer quando basta!Aqui não se trata de uma avaliação estética, de dizer se gostamos ou não de uma determinada peça arquitectónica ou de criticar interesses de outros investidores mas sim de chamar à razão, ainda para mais em tempo de eleições autárquicas. Quando se afirma que se aprovariam mais 3 unidades hoteleiras da dimensão da referida pelo Sr. Presidente do Governo, estamos exactamente a querer dizer o quê? Que as regras que serviram de base à análise dos investimentos que outros privados fizeram estavam erradas ou desadequadas? Que temos azar por não termos adquirido antes uns terrenos nas Romeiras para permuta? Que os Planos de Ordenamento estão todos desadequados? Que os Planos Estratégicos apontam para limitações tão tontas quanto aquela das 5 pessoas por mesa ou dos horários de fecho até às 6 da tarde? Como investidor no passado, não posso aceitar ser tratado de forma diferente. Não quero mais; nem sequer quero o mesmo! O que exijo, isso sim, é respeito pelas regras cumpridas e pelo cuidado que existiu nesses investimentos, que não foram alvo de planos de pormenor “taylor made”. Ficámos com menos vistas e não deu para fazer mega “rooftops”. Também somos mais pequenos, o que em proporção não significa que criemos menos emprego. Temos de saber concorrer com isto, o que já de si não é fácil; não basta?Alguns de nós não fizeram maior não foi por não saber; foi porque assim quisemos e porque era o possível, em face do enquadramento legal e urbanístico.