Compensações por...?

Permita-me, caro leitor, recuperar um tema que há uns tempos andou nas tascas dos iluminados em matéria de covid, design, etc. A pretensão de alguns municípios do norte, leia-se de São Vicente, em serem compensados pelos serviços prestados pela natureza, ou algo assim, fundada na justificação que se não fosse a água de Boa Ventura, o Funchal andava à seca.

Isto não só é do maior provincianismo que pode existir, como ainda é mais grave pelo facto de surgir numa ilha do tamanho do seu umbigo.

Primeiro, quais serviços? A floresta Laurissilva trabalha sozinha e não precisa de asfaltagens para acartar a água até à Ponta do Sol. Segundo, não me lembro de nenhum movimento ou política altruísta por parte do município para melhorar captação de água, reflorestação, limpeza de infestantes, utilização inteligente dos seus recursos hídricos, etc., trabalho que é feito, sim, pelo governo regional, mal ou bem, mas que procura o interesse de todos os madeirenses. Terceiro, na lógica que uma mancha importante da floresta está nessa concelhia, então não devemos compensar Machico por ter o porto de entrada do Caniçal? Santa Cruz pelo aeroporto? Ou é só para santacruzenses? E, já agora, o Funchal pelos serviços a que, inclusivamente, o povo de São Vicente usufrui? A floresta é de todos. A ilha é de todos. A delimitação municipal é tão só e apenas uma forma de organização funcional, ou desfuncional, à qual algumas pessoas parecem ter uma dificuldade bárbara de a entender.

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