Artigos

Identidade de Género: Confusão e Demagogia

A Associação de Estudantes da Escola Básica e Secundária de Carcavelos implementou o “Dia da Saia”, que incentivou os alunos a usarem esta peça de vestuário sob a bandeira da tolerância. A iniciativa contou com o apoio da Direção da escola, que considerou positiva a ideia porque promovia o respeito pelo outro. O alvo desta ação é obvia, os rapazes, e a pergunta impõe-se: Será que é incentivando os rapazes a usarem uma peça de roupa que não gostam, na qual não se sentem bem e que normalmente não escolheriam, que os vamos educar para a tolerância e para o respeito mútuo?

Esta iniciativa, aparentemente inocente, tem pelo menos dois problemas. Desde logo, parte do princípio de que todos os rapazes são pouco tolerantes e não respeitam a diferença. Por outro lado, esta ação tem por base uma nova corrente, daquelas politicamente corretas que ninguém se atreve a contestar, que assenta na existência de mais de dois géneros. Quando estudei Biologia, tanto o sexo biológico como o género estavam bem definidos por parâmetros que se baseavam numa forma binária de Masculino ou Feminino. A vivência em sociedade faz-nos perceber que todos os seres humanos são uma combinação de características tipicamente masculinas ou femininas, sendo que nenhum homem tem 100% de características masculinas, como nenhuma mulher tem 100% de características femininas. No entanto, há uma nova corrente, que tem ganhado cada vez mais adeptos, que assenta na premissa de que o género não se pode encaixar numa categoria fixa e binária, pois trata-se de uma espécie de espectro onde as pessoas se podem movimentar para expressar a forma como se sentem em cada momento. No fundo, querem dizer que há tantos géneros como pessoas no mundo. Isto não me parece mal, estou totalmente de acordo em que cada pessoa tenha a liberdade de viver ou de se identificar como quiser, desde que não pretendam influenciar ninguém nem impor as suas ideias à restante população.

Infelizmente, a hegemonia da identidade de género tem entrado da pior forma na sociedade europeia, através de um discurso demagógico que convenceu alguns partidos políticos, e que acabou por provocar alterações nas leis. Na Alemanha, esta corrente ganhou tantos adeptos que a partir de 2018 passou a ser possível deixar o campo do género em branco nos recém-nascidos, para que estes possam escolher o género com o qual se identificam quando atingirem a maioridade. Em Espanha, estão a estudar uma lei para que seja possível escolher um “terceiro género”, sendo que, para além do tradicional e fora de moda Masculino ou Feminino, também será possível eleger entre “outro”, “género fluido” ou “diverso”. E é isto que não deveria acontecer. Não podemos deixar mudar as leis contra todas as evidencias científicas só para agradar um pequeno grupo de pessoas, e através disso, permitir o acesso ao poder de certos partidos políticos que vivem destas minorias que normalmente gravitam entre os partidos mais extremistas. É necessário combater a demagogia barata e cada vez mais popular que muitas vezes invade a cena política, para evitar que estas novas correntes urbanas imponham as suas ideias à restante da população.

Sempre existiram “tribos urbanas” como os dreads, os betos, os góticos, os hippies, os skaters, etc., que entretanto caíram um pouco no esquecimento, mas que no auge da sua existência acabaram por se integrar e conquistar o seu espaço numa sociedade, que com eles aprendeu a ser mais tolerante e inclusiva. Nunca tiveram necessidade de exigir ao resto do mundo que vestissem as suas roupas durante um dia, para que aprendessem a aceitá-los. Nunca exigiram alterações nas leis para que pudessem expressar o seu modo de vida no cartão do cidadão.

Outro caso completamente diferente é o das pessoas que nascem com um dos mais de 50 síndromes associados a um estado intersexual, em que as pessoas apresentam conjuntamente características sexuais masculinas e femininas. Estas pessoas já há muitos anos podem escolher viver com o género que se identificam e é permitido efetuarem as alterações necessárias nos registos. Da mesma forma, as pessoas que não se identificam com o seu sexo biológico, também podem pedir o registo de mudança da menção do sexo e do nome sem nenhum problema.

Portanto, se pensarmos bem, facilmente verificamos que a grande generalidade dos países europeus são tendencialmente inclusivos, pelo que não vejo necessário nem apropriado a alteração das leis atuais, nem que se introduza este conceito nas escolas de uma forma tão superficial e tendenciosa.