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Para onde vamos?

Os melhores de um país são os que nunca deixam de sentir o sofrimento daqueles a quem tudo falta.

Abbé Pierre

O homem comum viaja frequentemente entre a angústia e a esperança, especialmente nos nossos dias em que nos defrontamos com profundas alterações sociais e económicas que conduzem ao desemprego e à pobreza de milhões de pessoas na Europa, no Mundo e, particularmente, em Portugal. As incertezas perante um futuro que se adivinha mal, que a todos nos coloca diante males iminentes susceptíveis de nos fazer passar por situações nunca vividas durante os últimos cem anos da nossa história comum, causam à maioria de nós um sufoco emocional e estreitam o espaço em que conseguimos vislumbrar o que fazer no imediato, levando ao desespero e a estados de angústia, chegando alguns à perda de confiança no devir da humanidade. São nestas situações que somos chamados a ser sinal de esperança, pois o bem que fazemos pelos outros, seja em que campo for, tem sempre futuro. A situação tornou-se insustentável. À dissipação do horizonte secular da esperança sucedeu-se um tempo sombrio, sem promessas nem sonhos. Estamos rodeados de políticos e de economistas muito “sábios ou néscios”, mas que têm reduzido o humano a gélidas equações como se o poder fosse uma substância e não uma relação de identidade. A vida existe, com particularidades qualidades éticas, para lá do discurso subjectivo do “mercado”, que desleixa esses valores. Olho para os rostos destes que nos têm governado e não reconheço neles qualquer semelhança com os nossos rostos comuns. Observem bem: abreviados, ausentes. As sombras que neles poisam são repintadas de vigílias tétricas em que se arredaram o bater comovido do coração humano e o pulsar da mais escassa ternura. Como conseguem viver nesta miséria de fazer mal? Têm-nos extorquido tudo e ainda querem mais, numa obscura vingança, cujo propósito decidido e inclemente é o de nos tornar infelizes. Pobres sempre o fomos. O domínio de uma classe sobre as outras exige essa forma escabrosa de brutalidade. Há notícias que nos deixam amachucados, abatidos. São de crimes, de vidas extraviadas, de tanta coisa negativa. Procuro aliviar o espírito com notícias de factos com notícias edificantes, onde a bondade e até a heroicidade se manifestam na sua natural limpidez e beleza moral. Os pecados sociais têm a sua origem primeira no coração da pessoa, quando exclusivamente fechada no seu egoísmo, sem qualquer abertura aos outros seres humanos. Podem concretizar-se em sectores vitais da sociedade, como a família, a escola e os meios de comunicação social, quando se demitem do seu papel de participar na construção do bem comum, respeitando a dignidade do ser humano. Para contrariar ou combater estes pecados sociais exige-se a educação nos valores, o gosto do bem comum, a generosidade e a bondade como atitudes sociais, a paixão por um mundo melhor. A cultura dominante do nosso enfermiço quotidiano está muito marcada pelo individualismo calculista. “Pensa em ti” é a advertência que ouvimos desde pequenos, a defesa de si mesmo, dos próprios interesses e do próprio dinheiro é, tantas vezes, a primeira e, porventura, a única preocupação de muitos, ou de quase todos. Uma cultura que quer contabilizar tudo e deseja que tudo seja pago, perde o sentido do dom, do serviço aos outros e da solidariedade. Pode-se enganar todos por algum tempo, pode-se enganar alguns todo o tempo, mas não se pode enganar a todos todo o tempo. O poder só é necessário para fazer o mal. Para fazer tudo o resto, basta o amor. Precisamos de mudar a democracia se quisermos mudar o nosso futuro. O Homem, tal como dizia Nietzche, é uma corda estendida entre a besta e o super-homem, uma corda sobre o abismo. Aliás, bem podem construir-se cadeias que nunca serão suficientes para o número crescente de criminosos, sobretudo os de colarinho branco. Estes são os piores dos piores. As almas estão em podridão. É preciso que a caridade volte às mãos de quem saiba amar a Deus e ao próximo. Amar sem fazer política. Os políticos e que fazem política. Eles estudam, classificam e afastam. Assim se faz com os micróbios. Precários são todos os Governos. Precários são os homens. Precário é o mundo. Altissonantes são os homens bondosos e ovantes de compaixão. Estes, sim, não são precários. Os Governos são como as fachadas. Limpa-se a fachada, mas a fachada reaparece sempre suja. O mundo desmorona-se, mas é que que se desmorona mesmo. Precisamos de gente limpa e caridosa, lugar de mártires, de heróis e de santos. Não há ninguém que reconheça a obrigação de atalhar a gangrena que alastra. Há muitas coisas que desconhecemos. O mundo está perdido. Esta pandemia é apenas o prelúdio ciprestral de uma nova ou de novas avassaladoras hecatombes que irão acontecer no futuro. E eu não sou Nostradamus. Aconteceram no passado e irão acontecer no futuro. Perguntem aos astrónomos ou aos cosmólogos. Estes sabem as respostas. Há pessoas que vivem sem pressentirem que o Universo existe. Tu, Zé ninguém, és apenas poeira estelar. Tudo veio do cosmos e tudo voltará novamente para o Universo.