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Desemprego! Os números não enganam

A larga maioria dos madeirenses já percebeu que a grande medida de apoio até à data foi o layoff simplificado

Os mais recentes dados estatísticos relativos ao desemprego dão conta de que a Região Autónoma da Madeira é a região do país com a mais elevada taxa de desemprego, atingindo os 10,7% no 4º trimestre de 2020. Nenhuma outra região atinge uma taxa de desemprego de dois dígitos, estando o Algarve na segunda posição. Em termos de PIB, estima-se que a Madeira apresente uma redução de 21% face a 2019, o que é praticamente o triplo da quebra registada a nível nacional.

Existem na Região cerca de 30 mil estabelecimentos não financeiros, dos quais praticamente um terço são empresas dos setores mais afetados pela pandemia: comércio e turismo! Olhando de forma mais atenta aos números do desemprego, vemos que é precisamente no comércio, no alojamento e na restauração que este flagelo mais pessoas tem atingido, e vai infelizmente continuar a crescer. Como é evidente, todo o país foi afetado pela pandemia e o peso do setor do turismo contribui decisivamente para estes resultados, mas há notas a reter que justificam uma profunda reflexão.

Desde logo, a evidência de que as medidas de apoio implementadas não são suficientes e não têm sido as mais adequadas, senão como se explicam estes indicadores numa Região em que, nas palavras e propaganda do Governo Regional, foram derramados milhões em apoios às empresas e famílias? A Região onde só as boas notícias são notícia, onde se anunciam retomas do turismo e ligações aéreas que não se chegam a concretizar, mas onde se esconde o cancelamento de operações devido ao evoluir da situação pandémica regional, como aconteceu recentemente com os voos da TUI e da Condor da Alemanha. A Região mais segura para visitar, a que melhor controla a pandemia, mesmo quando é a única do pais com índice da transmissibilidade superior a 1, e a que supostamente mantém a economia a funcionar, salvaguardando milhares de postos de trabalho com linhas de… crédito?!?

A larga maioria dos madeirenses já percebeu que a grande medida de apoio até à data foi o layoff simplificado, aplicado sem exceção a todo o território nacional, como não poderia deixar de ser, e que na Madeira já atribuiu mais de 40 milhões de euros. Mas também já todos percebemos que crédito não é apoio a fundo perdido, que cada dia é mais difícil manter postos de trabalho nas empresas e que mesmo os apoios prometidos a fundo perdido para fazer face a custos de 2020 ainda não foram disponibilizados, apesar de anunciados em Outubro passado, como é disso exemplo o Funcionamento 2020. E muito se fala de falta de recursos financeiros, mas se a Madeira exigindo a possibilidade de se endividar em 300 milhões de euros, acabou por recorrer a um empréstimo de 458 milhões, porque motivo a dívida criada, e que será paga por todos nós, não é aplicada em medidas que possam efetivamente beneficiar e apoiar a população no imediato?

Os números não enganam! Se ter a mais alta taxa de desemprego do país e uma quebra do PIB três vezes superior à nacional significa que temos a economia a funcionar, nem quero imaginar o que seria se esta não funcionasse. Infelizmente, enquanto as prioridades e políticas de investimento não se alterarem, enquanto propostas válidas continuarem a ser vetadas pela maioria PSD/CDS no parlamento regional apenas por não serem da sua autoria e, sobretudo, enquanto a propaganda eleitoralista continuar a ser mais importante que a vida e o sustento das pessoas, não podemos esperar outro destino. É por isso que escrutinar, fiscalizar, propor e apresentar soluções, devem continuar a ser o mote, para que possamos, todos, manter a esperança. Esperança no combate à pandemia e esperança num futuro melhor.

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