Análise

Testes à portugalidade

Os portugueses voltam a ser chamados a resolver a crise política instalada, decorrente do demérito de vários protagonistas, uns incapazes de gerar entendimentos, outros sem rasgo para inovar, muitos inábeis na negociação e imensos à margem da participação criativa e permanente na democracia.

Voltamos a ter que escolher antes do prazo porque a partidocracia assim quis, a mesma que é incapaz de fomentar a estabilidade necessária para gerir com sucesso um País que teima em atrasar-se em matérias cruciais mesmo que organize cimeiras vanguardistas, a mesma que não consegue acabar de vez com expedientes que penalizam a modernidade, entre os quais, os processos eleitorais excessivamente longos e burocráticos.

A 30 de Janeiro fica traçado o rumo que o País tem vontade de implementar com aqueles que se disponibilizam para liderar projectos, de poder ou de mero escrutínio deste, porque nem todos ganham, mesmo que tudo façam para dar um ar de vencedores. Mais importante do que saber se teremos as cada vez menos prováveis maiorias absolutas, importa perceber quem dá primazia ao colectivo e ao futuro, quem vai gerar oportunidades e emprego e quem tem capacidade de ter contas certas, estratégias estruturadas e coragem reformista.

Enquanto o País outrora conquistador não perceber que anda a perder tempo em ensaios, palpites e degustação, não faltarão interessados em prolongar o entretenimento com experiências de governação que, à vez, vão satisfazendo clientelas e apetites, mas que não deixam marcas e não promovem méritos, fomentam a alienação, aprofundam desigualdades e esbanjam talentos.

O País de que a Região é parte integrante não pode ignorar a diversidade, nem esta fingir que é um ‘offshore’, com sentido de pertença limitado ao usufruto dos direitos, mas pouco empenhada na execução dos deveres.

Enquanto não surge o momento de votar importa colocar questões para que quem for candidato ter a amabilidade de responder com toda a frontalidade. Mas acima de tudo fazer o exercício que nos desperte para a lucidez que urge.

Em quem vamos confiar? Nos sonsos que passam a vida a tratar do que é seu a coberto da propaganda que pinta o quadro de altruísmo? Dos pirilampos que pela intermitência de actuação nada produzem de jeito? Nos camaleões que se posicionam conforme as circunstâncias, logo, não contam na hora de todas as decisões? Nos que erguem muros em vez de pontes na relação entre governos? Nos ambiciosos indisponíveis para tudo o que não envolva palco e estrelato? Nos que ficam reféns de convicções ancestrais ultrapassadas por necessidades inadiáveis? Nos incoerentes que pedem para o país o que não conseguem pôr em prática nos partidos onde habitam?

E quem devem ser os candidatos dos diversos partidos na Região a São Bento? Os que já lá estavam ou alguns dos que deram a cara na luta autárquica e a quem foi prometida recompensa? Os que têm sentido patriótico e da República uma percepção esclarecida ou os que fazem do contencioso uma arma para continuar a ter desculpa fácil e bode expiatório? Os que estão legitimados por mandatos ainda válidos ou os que adiaram congressos?